No Vermelho, por Eduardo Bomfim:
Nação, modernidade e corrupção
Uma das questões chaves para o Brasil, sobre o entendimento do que se passa no mundo atual é, acredito, a relação entre o conceito de soberania nacional em amplo sentido e a realidade irreversível da chamada globalização interconectada.
Trata-se de uma compreensão diferenciada da globalização subalterna que implica na definição de um campo de nações superiores e de outras inferiores, plenamente utilizada nos tempos coloniais, que perdurou concretamente até a década de setenta passada, na África e em outros continentes, e também pelo resto do século 20 aos dias atuais, de formas diferenciadas.
Nada mais explícito sobre o tratamento conferido aos “outros”, nesse caso, às outras nações, do que o retorno exaltado e em grande estilo do sentido místico-religioso do “Destino Manifesto” de País líder, por outorga divina, aos Estados Unidos, durante os períodos que vão de Bush pai ao de Bush filho.
Essa concepção não se reduz à superioridade do complexo financeiro-tecnológico-miltar da nação império, amplia-se também à hegemonia cultural-ideológica. Ambas são verdadeiras, embora não sejam nem um pouco divinas, e compõem o leque das estratégias para a liderança imposta.
A atual crise financeira internacional que se alastrou pelos setores de produção, a economia real, revelou de forma acentuada aquilo que já se apresentava há algum tempo, o mundo entrou em uma nova época, a da “modernidade multilateral e globalmente interconectada”, tendo como base os Estados nacionais soberanos.
Mas essa soberania não será conferida ao Brasil graciosamente, tem que ser conquistada em múltiplos aspectos, nas ciências, na economia, no crescente padrão de vida da população, na capacidade de defesa do território nacional etc.
Assim, o fator imprescindível é o crescimento econômico associado ao desenvolvimento, que importa no investimento da riqueza produzida e poupada, para os interesses das maiorias, na elevação do seu nível cultural.
O crescimento brasileiro é verdadeiro, apesar da crise atual, mas ainda não se encontra ao nível de uma real cidadania política para a maioria da população.
E ainda persistem fortes traços de um patrimonialismo desvairado, através da sonegação pelos poderosos e do desvio do bem público. Uma herança perversa, baseada na idéia de um Estado sempre dilapidado, subtraído.
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