01 junho 2009

Tucanos sem discurso e sem emoção

Editorial do Vermelho:
A duvidosa relação do PSDB com a verdade

A autoimagen dos tucanos, que gostam de se apresentar como éticos, sai arranhada de duas notícias publicadas ontem (31) pelo jornal O Estado de S. Paulo. Uma delas relata a movimentação tucana em torno de cientistas políticos e marqueteiros para afinar o discurso eleitoral do ano que vem. Não adianta mais proclamar, como em 2006, as virtudes do melhor gerenciamento do Estado, disseram eles; este é um tema perdido para os tucanos. Há outras perdas discursivas: o tema da estabilidade econômica não funciona mais; disputar a paternidade do Bolsa Família também não dará certo pois os eleitores já decidiram que ela é de Lula. Criticar o Bolsa Família, então, nem pensar... o melhor é defender sua ampliação. Bater em Lula será mortal: isso fará perder votos, disse o professor Marco Antonio Teixeira, da FGV/SP.

Sem discurso, o PSDB busca agora a emoção. E ''flerta'', diz o Estadão, com as idéias do neurocientista Drew Westen, da Emory University, de Atlanta (EUA), autor do livro The political brain (''O cérebro político'') onde sustenta que o eleitor decide o voto com o coração e não com o cérebro. E, com base nisso, sugere que emocionar o eleitor será mais eficiente do que usar um discurso racional.

São idéias que levam a pensar. Usa-se a emoção - e a propaganda está cheia disso - quando não se pode, ou não se quer, falar toda a verdade para o eleitor (ou consumidor).

No caso de um eventual novo discurso eleitoral, quais serão as emoções que os tucanos podem usar? Dificilmente será uma emoção positiva como a esperança, bandeira que mobiliza o povo pobre para quem a perspectiva de melhoria da vida é fundamental, e ela veio justamente com Lula. Ou os tucanos teriam esquecido que a esperança venceu o medo em 2002?

Talvez seja então uma emoção negativa, como o medo. Mas que medo eles podem sugerir para os eleitores de renda mais baixa, que precisam conquistar? O que causa medo mesmo no povo é o programa tucano e sua principal bandeira, a privatização, que simboliza para o eleitor toda a má experiência que os trabalhadores tiveram sob os oito anos de Fernando Henrique Cardoso e os tucanos no governo do país.

Medo provocado pelos próprios tucanos. Fantasma que eles procuram esconjurar, como ficou claro com a nota - uma reação medrosa - divulgada dia 19 por FHC ante as primeiras manifestações públicas de condenação da CPI da Petrobrás instaurada por um golpe dos senadores do PSDB. E que, ao contrário do que esperavam os cardeais emplumados, foi prontamente rejeitada pelos setores progressistas e denunciada pelo movimento social como uma tentativa de atingir a estatal.

O teor da nota de FHC é desmentido pela outra notícia publicada pelo Estadão, onde a jornalista Suely Caldas relata uma conversa com o banqueiro Luiz Carlos Mendonça de Barros, presidente do BNDES no governo de FHC e um dos principais operadores da privatização.

Nela, o banqueiro desmonta a alegação de FHC de que, como presidente, fora contra a privatização da Petrobras e revela que a idéia, em seu governo, era ''criar uma segunda empresa com um pedaço da Petrobrás, com a finalidade de romper o monopólio'', explicou ele. Isto é, despedaçá-la para favorecer o controle do petróleo brasileiro por empresas privadas, brasileiras e estrangeiras.

Tudo isso permite pensar que a relação dos tucanos com a verdade é no mínimo ambígua. E que o PSDB, não podendo apresentar de peito aberto seu programa porque ele é rejeitado pelos brasileiros, quer emocionar o eleitor para evitar que ele pense.

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