UNE: nem chapa-branca, nem anarquista
Luciano Siqueira
Quem tem medo da União Nacional dos Estudantes? Por que tanta distorção na precária cobertura da grande mídia ao 51º. Congresso da entidade, recém-realizado? Preconceito? Ou simples parcialidade?
Se minimamente imparcial e efetivamente informativa, qualquer pauta da jornalística teria que destacar uma reunião de mais de 15 mil jovens universitários destinada a debater a educação superior e os rumos da Nação. E que contou com a presença, em sua abertura, pela primeira vez na história do movimento estudantil, do presidente da República.
Teria também, uma pauta imparcial e realmente informativa, destacado o conteúdo dos debates e dos pronunciamentos da presidente que encerrou o mandato, a gaúcha Lúcia Stumpf, e do novo presidente, o paulista Augusto Chagas. E não deixaria de acentuar a postura equilibrada e politicamente justa da entidade – capaz de reconhecer que o atual governo se esforça por levar à prática muitas das bandeiras históricas da UNE, e por isso não é inimigo, é aliado; e ao mesmo tempo, firme na defesa da reforma do sistema educacional e no combate a aspectos essenciais da orientação macroeconômica do governo, que os estudantes entendem ser prejudicial ao desenvolvimento do país.
Nada disso mereceu registro. O foco das acanhadas matérias publicadas esteve no fato considerado por alguns negativo (sic) de que o presidente eleito é militante do PCdoB, como também eram os seus antecessores – como se integrar as fileiras comunistas fosse um defeito e como se o direito constitucional de qualquer cidadão de filiar-se a um partido político devesse ser negado aos líderes estudantis! Aliás, desconhecem esses críticos, que a diretoria da entidade é composta pelo critério da proporcionalidade e dela participam praticamente todas as correntes políticas presentes no movimento, incluindo as de centro-direita. Também se procurou denegrir a entidade por haver recebido apoio institucional de empresa estatal para a realização do Congresso – a exemplo, diga-se, em eventos desse porte, de inúmeras entidades de diversas naturezas, inclusive representativas de setores empresariais. Para os outros pode, para a UNE, não. Dois pesos, duas medidas.
O fato que a crítica conservadora e tendenciosa se nega a reconhecer é que a UNE nem é chapa-branca, nem tampouco anarquista. Alia-se ao governo quando são convergentes as bandeiras sustentadas por ambos; e critica duramente o governo quando as divergências se acentuam – razão de manifestações públicas defronte às sedes do Banco Central em Brasília e em várias capitais, exigindo a aceleração na queda da taxa básica de juros; e de passeatas exigindo a punição de autoridades pilhadas em atos de corrupção. Assume, portanto, um comportamento prepositivo e ao mesmo tempo crítico, sem abrir mão de sua independência e autonomia.
Também não adota, a UNE, uma atitude irresponsável, de teor anarquista, como muitos “analistas” gostariam que adotasse: “Hay gobierno, soy contra”. Se assim procedesse, perderia credibilidade e faria, claro, docilmente, o jogo da direita inconformada com os novos rumos que o Brasil vem trilhando.
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