Burle Marx e o amor pelo Recife
Luciano Siqueira
Concebida como “um ato criador da vontade humana para servir às necessidades e aos desejos mais imperiosos de uma coletividade”, no dizer de Josué de Castro, a cidade vive em permanente processo de construção onde o presente reflete o passado e projeta o seu futuro.
Ato criador coletivo, marcado por contradições e contrastes, as cidades são territórios ocupados (com raras exceções) de modo desordenado, em que desejos e aspirações comuns se vêm constrangidos pela sanha ilimitada do lucro, que as desumanizam e as desfiguram. O direito de todos a uma cidade saudável se confronta com poder de poucos que, detendo o capital, teimam em moldá-la segundo seus interesses.
Mas há resistência. Sempre houve, ao longo da História. No Recife trem sido assim: uma cidade que resiste de muitas formas, tingindo a luta de coragem, técnica, ciência, arte e amor. O circuito comemorativo do Centenário do paisagista Burle Marx (1909-1994), iniciado na última terça-feira (4), com o lançamento da cartilha Os Jardins de Burle Marx no Recife, é um ato coletivo de amor à cidade.
A cartilha, produzida pelo Laboratório da Paisagem da Universidade Federal de Pernambuco, sob a coordenação da professora Ana Rita Sá Carneiro, e publicada com o apoio da Prefeitura do Recife, nos permite um novo olhar sobre a obra do paisagista paulista que aqui iniciou sua trajetória profissional em 1935 com o projeto da Praça de Casa Forte.
A cartilha valoriza nosso patrimônio paisagístico, arquitetônico e cultural. E contribui para que se dê a verdadeira dimensão às nossas praças – seja porque encerram ciência e arte, como as projetadas por Burle Marx; seja porque muitas delas têm sido palco de manifestações públicas que marcam a história libertária do nosso povo; seja ainda porque no tempo de concorrência e de insegurança em que vivemos, são ainda as praças um espaço de convivência comunitária – de humanização da cidade, portanto.
Inspirado nesses significados apresentamos projeto de lei – ora em tramitação na Câmara Municipal - cria a Semana Burle Marx, a se realizar anualmente sempre no mês de agosto, sob os auspícios do poder público local e com ampla participação da sociedade civil.
Para que os habitantes da cidade e os que nos visitam se sensibilizem e se comprometam com a luta por uma cidade mais humana.
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