Quando faz falta separar alhos e bugalhos
Luciano Siqueira
Perdoem-me os que têm o dever de alimentar o noticiário diariamente com fatos ou ilações que inspirem no leitor (ou ouvinte ou telespectador ou internauta) a impressão de que o mundo gira e ele está sendo bem informado. É preciso ir além da superfície, evitar seguir a primeira onda que a grande mídia cria movida por interesses inconfessáveis ou não.
Quando o tema é política, então, o que se imagina e o que se deseja muitas vezes superam a realidade dos fatos ou o sentido real que eles têm.
Dois fatos em si contraditórios freqüentaram ontem o noticiário como se nenhum nexo guardassem entre si. As andanças da senadora Marina Silva, do PT do Acre, num cortejo de auscultas a amigos e correligionários acerca da hipótese de desligar-se do seu partido e migrar para o PV, pelo qual seria candidata à presidência da República; e o colóquio entre o deputado Fernando Gabeira, do PV carioca, com o governador paulista José Serra, do PSDB, no sentido de que o primeiro seja apoiado pelos tucanos numa candidatura ao governo do Rio de Janeiro, fazendo-se assim importante ponto de apoio ao segundo, cotado como candidato para a disputa presidencial.
Ora, se a hipótese Marina Silva é apontada – de maneira ligeira e superficial, a meu ver – como fator de desequilíbrio (sic) num presumível confronto entre Serra (PSDB) versus Dilma (PT), como isso poderia se confirmar se no terceiro colégio eleitoral do país os verdes estariam combinados com os tucanos?
Demais, pelas regras atuais um candidato a governador estará pelo menos formalmente comprometido com a candidatura à presidência pelo seu partido, se houver.
Mas a ânsia noticiosa, vale dizer, tendenciosa em expectativas precipitadas e distorcidas nas conclusões antecipadas é tão grande que repórteres e articulistas terminam por subestimar a capacidade de discernimento do público!
Nesse caso, no mínimo seria necessário separar alhos e bugalhos e discutir as duas possibilidades – Marina candidata à presidência pelo PV; Gabeira pretendente ao governo do Rio em aliança com Serra para presidente – como conflitantes e excludentes entre si. Ajudaria o cidadão comum pouco afeito aos meandros da política a compreender o que se passa e a perceber a variedade de cenários possíveis em relação ao pleito de 2010, todos a depender de variáveis que ainda não estão maduras ou sequer vieram à tona.
Isto porque ao contrário do que sugere o sensacionalismo que cerca os casos de corrupção e afins, política é coisa muito séria e é preciso ser acompanhada por todos – sobretudo pelos que serão chamados a influenciar o curso dos acontecimentos através do voto.
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