08 outubro 2009

Coluna semanal no portal Vermelho

Bancários e bancos no Brasil
Luciano Siqueira


Tempo de greve dos bancários, tempo de breve reflexão sobre o papel dos bancos no Brasil.

Os bancários paralisam suas atividades sustentando uma pauta de reivindicações ampla: reajuste de 10% do salário; PLR simplificada, equivalente a três salários mais R$ 3.850 fixos; valorização dos pisos salariais; preservação dos empregos e mais contratações; mais saúde e melhores condições de trabalho; auxílio-creche/babá; auxílio-refeição; cesta-alimentação; segurança; previdência complementar para todos. Coisa de quem vive o contraste entre os lucros astronômicos dos patrões e a dureza de um cotidiano de muito trabalho e permanente ameaça de desemprego na proporção direta da mecanização/informatização dos serviços.

Os bancos, por seu turno, com crise e tudo, só neste primeiro semestre apresentam desempenho fantástico: Itaú R$ 4,586 bilhões; Bradesco R$ 4,02 bilhões; Santander R$ 1,874 bilhão – isso para citar apenas os maiores do setor privado.

Mas há outra percepção da realidade dos bancos em nosso país. Recentemente o IPEA (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) demonstrou em estudo que o Brasil tem um sistema bancário incompleto, que contribui para a concentração de riqueza e aumento da exclusão social.

O estudo "Transformações na indústria bancária brasileira e o cenário de crise" demonstra que o enfraquecimento do Estado no mercado financeiro brasileiro – de que se vangloriava outro dia o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em programa de TV - contribui para agravar exclusão social e a dificuldade de acesso da população mais pobre aos serviços bancários: menos bancos, drástica redução de numero de agências. De quebra, ainda concorre para o aprofundamento das desigualdades regionais: na última década, recursos que serviam de crédito para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste migraram para o Sudeste, na esteira da concentração bancária.

Nas regiões Norte e Nordeste a relação da população por agência é quase três vezes maior do que nas regiões Sul e Sudeste. Uma variante compensatória dessa distorção tem sido o uso dos chamados correspondentes bancários, que permite que certos serviços sejam operados através de padarias, postos lotéricos, correios e farmácias.

A greve e os dados do IPEA conformam a equação atual da relação entre as instituições bancárias privadas e a população: numa ponta, a ânsia insaciável por mais lucros; do outro, carência de recursos e de serviços e desvalorização do trabalho.

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