18 novembro 2009

Artigo semanal no Blog de Jamildo (JC Online)

Ciro e Aécio: diversionismo ou jogo de cena?
Luciano Siqueira


O deputado Ciro Gomes, do PSB, conversa com o governador Aécio Neves, de Minas Gerais, do PSDB. Ambos ostentam a condição de postulantes a candidatura à presidência da República. Os jornais anunciam que eles tratam exatamente disso: da disputa presidencial do ano que vem. Eles não desmentem. E as coisas passam a ser vistas como se estivessem em busca de uma aliança eleitoral.

É possível? Ora, mesmo sendo razoável dizer que em política tudo pode acontecer – o autor dessas linhas já viu de tudo, menos uma vaca voar... -, não parece consistente a hipótese de que o deputado e o governador estariam costurando um acordo eleitoral.

A começar pelos partidos a que pertencem, perfilados em campos opostos na atual cena política do país. O PSDB do governador Aécio comanda a oposição de centro-direita, combatendo frontalmente o presidente Lula e o seu governo. O PSB do deputado Ciro está entre os principais partidos integrantes da coalizão governista.

Entre o PSDB e o PSB não há convergências acerca dos rumos do país. O PSB defende, em linhas gerais, a orientação do governo Lula. O PSDB, mesmo sem um discurso articulado e perdido em questiúnculas pontuais, é abertamente defensor de postulados do neoliberalismo.

O governador Aécio, ao que parece, embora um líder de grande dimensão entre os tucanos, não detém a hegemonia no seu partido – portanto não teria condições de promover uma guinada para apoiar o deputado Ciro.

O deputado Ciro Gomes, por seu turno, nome de grande expressão no PSB, tampouco teria força para afastar o seu partido da coalizão liderada pelo PT.

Postas essas premissas, restam duas hipóteses para explicar o colóquio entre o governador mineiro e o deputado cearense. Uma: ambos interessados em se cacifar no interior dos seus partidos tendo em vista o projeto da candidatura à presidência promoveriam, assim, uma manobra diversionista destinada tanto a sublinhar que a escolha do governador José Serra, de São Paulo, ainda não está consolidada no PSDB; como para firmar a idéia de que, no PSB, o apoio à candidatura da ministra Dilma, do PT, não pode ser considerado ainda favas contadas.

Daí a segunda hipótese, que complementa a primeira: ambos estariam fazendo jogo de cena no intuito de aferir bons resultados no interior dos seus partidos. Nada mais que isso.

Entretanto, como têm responsabilidade pública, ficam instados a explicitar em quais das grandes questões nacionais encontram, entre si, convergências – se que elas existem.

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