25 janeiro 2010

Chile e Brasil, situações distintas

Editorial do Vermelho:
As diferenças entre Chile e Brasil
. A vitória da direita no segundo turno da eleição presidencial chilena assanhou a direita e os neoliberais brasileiros, e seus ventríloquos da mídia, que comemoram a eleição de Sebastián Piñera como a comprovação da tese de que o prestígio do presidente não se transfere para seu candidato. Lá, a presidenta Michelle Bachelet também tinha aprovação popular na casa dos 80%, mas seu candidato, o democrata cristão Eduardo Frei, ficou com apenas 48,4% dos votos, contra 51,6% dos obtidos pelo candidato da direita.
. Aquele resultado é desfavorável aos novos ventos que sopram na América do Sul, e ainda vai repercutir muito. Como reconheceu o presidente do Partido Comunista do Chile, Gullermo Teillier, a vitória de Piñera "é, sem dúvida, uma má notícia para o Chile e a América Latina".
. A repercussão dessa má notícia precisa ser avaliada com critério. Para o Chile, ela pode significar o retrocesso mesmo nos tímidos avanços sociais e políticos dos vinte anos de governos da Concertación. Foi um período de transição do fascismo pinhochetista para uma democracia severamente limitada pela Constituição imposta pelo ditador. Lá, a luta dos trabalhadores é manietada por um Código do Trabalho de 1980 (elaborado sob Pinochet, portanto), que dificulta as greves e impede a negociação de acordos coletivos. O sistema eleitoral, binominal, que favorece os grandes partidos e praticamente impede a eleição de representantes dos pequenos, dificilmente será modificado. Além disso, a punição dos crimes contra os direitos humanos cometidos contra a ditadura (prisões ilegais, tortura e assassinatos políticos) vai enfrentar grandes obstáculos, o povo mapuche (cuja luta constitui um dos grandes movimentos sociais no Chile) continuará sendo oprimido, a empresa estatal Codelco, do cobre, fica agora sob ameaça de privatização, e por aí vai.
. Leia o texto completo http://www.vermelho.org.br/editorial.php?id_editorial=656&id_secao=16

Um comentário:

  1. Democracia, volver

    Soa exagerado interpretar a vitória de Miguel Piñera no Chile como sinal de reação conservadora na América Latina. O equívoco é repetido por apologistas de direita e de esquerda. Os primeiros gostam de trombetear vingança, criando um paralelo com José Serra nas eleições brasileiras; os demais pensam em forças malévolas, necessariamente retrógradas e autoritárias.
    Não existe essa onda conservadora no continente. A recente vitória de Pepe Mujica no Uruguai equivaleu, em proporções muito menores, à de Lula no Brasil. E restam ainda Lugo, Morales, Chávez.
    “Esquerda”, “centro” e “direita” são simplificações úteis em noticiários e discursos partidários, mas neutralizam uma diversidade humana cada vez mais decisiva num ambiente institucional dominado pelo pragmatismo. Isso vale, especificamente, para o Chile: até que ponto o governo de Michelle Bachelet pode ser rotulado como “de esquerda”? E o que dizer do moderadíssimo ex-presidente Eduardo Frei? Empresários são inevitáveis crápulas políticos?
    A alternância democrática é marcada justamente pelo revezamento cíclico de forças políticas divergentes. Projetos eleitorais se esgotam, pessoas cansam, plataformas caducam. A derrota de candidatos com discursos progressistas, especialmente os que deixam o poder, pode significar a possibilidade de aprender com a experiência administrativa e construir novos consensos.
    Tudo depende do contexto político-partidário. Em certas circunstâncias, a renovação é necessária e louvável, mas em outras é apenas aparente. No caso brasileiro, uma vitória de Serra poderia realmente significar um retrocesso histórico do qual demoraríamos décadas para nos recuperar.

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