No Vermelho, por Eduardo Bomfim:
O baiano fantasma
Tive a oportunidade de rever na telinha do Canal Brasil um filme de primeiríssima qualidade. Trata-se de O Baiano Fantasma, de 1984, dirigido por Denoy de Oliveira e no elenco atores de qualidade, como José Dumont. Trata-se da história e desventuras de um nordestino paraibano que vai para São Paulo tentar ganhar a vida e acaba, sem querer, cobrador de dívidas de uma quadrilha que vendia proteção pessoal a pequenos comerciantes.
As cenas são passadas nos cortiços do centro da cidade e nas favelas de São Paulo. Os personagens são, entre outros, pequenos comerciantes descendentes de italianos, chamados de carcamanos, árabes da periferia e principalmente nordestinos aos milhares, entre atores e nas tomadas de ruas.
O enredo oscila do trágico ao cômico recorrentemente. O ritmo do filme é realista e ao mesmo tempo dinâmico, fugindo do estilo parado, introspectivo-tedioso como era característico de alguns dos nossos diretores encantados pelo gênero da “velha” vanguarda do cinema francês que já teve seus momentos de glória.
Mas que, como dizia na época, Nelson Rodrigues, era um cinema muito prestigiado, assistido por iniciados em cujas salas de projeção havia uma platéia minúscula e alguns cidadãos roncando, babando na gravata, ninados pelo ar refrigerado e a proteção da penumbra.
Hoje a coisa mudou e o que predomina é o estilo tecnologia de ponta, descerebrado, de apologia aos mariners, em guerras que os norte-americanos perderam ou nunca vão ganhar como a do Iraque, com algumas excelentes exceções, como No vale das Sombras estrelado por Tommy Lee Jones, de 2007.
Há bons diretores brasileiros dessa nova safra que honram a linhagem reflexiva de Nelson Pereira dos Santos e outros. Mas vem se firmando um privilegiado time de diretores regiamente financiados por leis de incentivo à cultura, muito politicamente corretos, com loas às favelas e em defesa da violência dos traficantes.
Como se fosse justo aplaudir a anemia e a impotência do Estado em relação à miséria e ao crime organizado. Já o premiado "Baiano Fantasma", mostra os verdadeiros construtores do Brasil industrial paulista, imigrantes, italianos, principalmente nordestinos, agredidos, discriminados e abandonados.
O que me lembra nessa festança de ONGs, cotas e etnias, reivindicar para esses milhões de também brasileiro-brasileiros uma parte dessa coisa toda.
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