Uma boa má notícia
Luciano Siqueira
Luciana Santos, ex-prefeita de Olinda, conviveu durante oito anos com ingentes desafios próprios de uma cidade grande (cerca de ¼ da população do Recife) e com arrecadação de cidade pequena (1/12 da renda própria da capital). “A gente todo dia tem que matar um leão e mostrar a juba”, dizia. Mas completava com a serenidade e o bom humor que a caracterizam, “pior seria não ter que lidar com esses problemas”. Ou seja, se houvesse perdido as eleições de 2000 e 2004 – que venceu ambas de maneira acachapante.
Guardadas as proporções, o mesmo poderia pensar o presidente Lula diante dessa boa má notícia, que ocupou páginas de jornais no último domingo (em plena folia carnavalesca): em 2009, 1,7 milhão de vagas oferecidas nas agências públicas de emprego não foram preenchidas. Um índice recorde que se situa precisamente em postos de trabalho que exigem algum grau de qualificação técnica, como engenheiros e nutricionistas.
A notícia é boa porque nas duas décadas perdidas, que se estendeu à era FHC, o crescimento econômico foi além de pífio, desqualificado, puxado, então, pelas exportações predominantemente de produtos primários. Quem não conhece engenheiros, químicos e profissionais diversos, de nível superior e médio, tecnicamente qualificados que, por falta de oportunidade, prestaram concurso e se converteram em funcionários de tribunais de contas e outros órgãos do Judiciário, ou preencheram vagas abertas na Receita Federal ou no Banco do Brasil e na Caixa Econômica? Agora mesmo citaria uns trinta cá da província, só em círculos de amigos mais próximos. Recebem salários gordos, mas foram desviados de função.
O “apagão” de mão de obra técnica, como caracterizou em manchete de primeira página o jornalão paulista é, em essência, uma notícia boa. Reflete o crescimento econômico que passa a ser puxado não apenas pelo setor de serviços, mas igualmente pela indústria – resultante direta do empenho do governo Lula em enfrentar os efeitos da crise global apostando em investimentos públicos em infraestrutura, no incentivo ma atividades produtivas e no incremento do mercado interno.
Levantamento feito junto ao Sine - rede pública de agências de emprego – revela que apesar dos malefícios provocados pela crise global na geração de empregos formais em 2009 (pior saldo anual desde 2003), a oferta de vagas no sistema foi a maior da década, atingindo 2,7 milhões.
E agora, José?, perguntaria o poeta. Agora o horizonte tende a ser mais promissor ainda. Por duas razões: uma, as previsões para este ano são de aumento do PIB e, por conseqüência, de maior demanda de postos de trabalho; dois, o governo continua reforçando as universidades públicas (e a oferta cursos especializados) e já inaugurou 141 as escolas técnicas e outras 99 estão em construção e devem ficar prontas até o final deste ano – o que conta a favor do almejado projeto nacional de desenvolvimento.
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