Cada cabeça uma sentença e duas ideias opostas
Luciano Siqueira
A primeira parte do título é expressão é muito comum, usada para justificar a multiplicidade de opiniões em relação à vida. Via de regra argumento simples para a defesa da pluralidade partidária: se o Brasil é imenso e complexo, natural que na busca de compreender e transformar (ou não) a realidade surjam diversas correntes de pensamento. E que se traduzam através de partidos políticos.
Não é democrático, por outro lado, engessar o espectro partidário através de regras restritivas destinadas a privilegiar os atuais grandes partidos, como recorrentemente propõem as forças de centro-direita. Uma corrente política hoje minoritária pode se converter futuramente em hegemônica a depender da escolha popular que, para tanto, necessita do debate amplo e da polêmica esclarecedora. Se este ou aquele partido tem cerceada a sua participação na cena política – no parlamento e nos meios de comunicação – por haver obtido eventualmente votação pequena, o direito de expressão e de busca de novos adeptos é suprimido.
Mas eis que surge a pergunta: seria uma incongruência defender a pluralidade partidária e ao mesmo tempo desejar uma eleição presidencial plebiscitária?
Plebiscitária no sentido de colocar em confronto aberto duas propostas diametralmente opostas – a continuidade da construção de um novo projeto nacional de desenvolvimento, sustentada pela ministra Dilma versus o retorno ao receituário neoliberal, representada pelo governador Serra. Desejo do presidente Lula, do PCdoB e da maioria dos partidos da coalizão governista.
A resposta é não. É coerente, sim, propugnar a pluralidade partidária e chamar a disputa presidencial para a polarização para melhor esclarecer o eleitorado. Primeiro porque os dois blocos - o governista e o oposicionista – são constituídos por partidos que, congregados não perdem a sua identidade própria; formam uma espécie de arco-íris. Cada um a seu modo contribui para o programa comum, de consenso. E, além disso, apresentam seus candidatos aos parlamentos estadual e federal e mesmo a governador.
Mais: cada partido coligado em torno das duas principais candidaturas à presidência da República há que justificar perante seus presumíveis eleitores a opção programática que fizeram – pelo menos os partidos que efetivamente se colocam como tal (tirante algumas legendas que ainda não se constituíram como corrente político-ideológica).
E os que preferem a multiplicidade de candidaturas no primeiro turno, postergando a polarização para um hipotético segundo turno? A seu critério, não são exatamente antidemocráticos, claro. A questão aí é outra, de ordem tática. Basta anotar as críticas contundentes feitas ao PT e aliados por Ciro Gomes do PSB, para justificar a sua postulação. E, do outro lado, as recentes declarações de Marina, do PV, para quem o PT teria cometido um erro histórico (sic) ao não se aliar ao PSDB, uma vez alcançado o governo da República. Quem serve a quem?
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