Dois pesos, duas medidas e a falta de coerência
Luciano Siqueira
O mote é a decisão da direção nacional do PSB, que anteontem retirou a pré-candidatura do deputado Ciro Gomes à presidência da República. Mas não é sobre as razões estritamente partidárias, digamos assim, a que me refiro. Afinal, integrante de outra corrente política, não cabe a esse modesto escriba imiscuir-se em assuntos internos da agremiação aliada. Cada macaco em seu galho.
O que me motiva essas breves linhas é a crítica que se faz ao Partido Socialista Brasileiro por “tolher as legítimas pretensões de um dos seus filiados”. Nada mais rasteiro e incoerente.
A incoerência está exatamente no seguinte. Costumam esses mesmos críticos – alguns oriundos da academia, outros analistas a serviço de grandes órgãos de comunicação – reclamar da fragilidade dos partidos políticos no Brasil. O que é fato: desde o Império aos diversos períodos republicanos, a história institucional brasileira registra partidos predominantemente efêmeros, conjunturais, pouco apegados a fundamentos teóricos e programáticos (com exceção do Partido Comunista). Portanto, frágeis. Daí o desejo dos que pugnam pelo fortalecimento do processo democrático que os partidos se tornem longevos, unos e afeitos a princípios e programas.
Ora, partidos assim são chamados a se posicionar na cena política justamente conforme o programa e a orientação tática, e não em função da pretensão pessoal deste ou daquele filiado, por mais legítima que seja. É o que acontece com o PSB, que ao analisar o quadro sucessório e as forças em presença, adotou a conduta que considerou mais justa, que aponta para a continuidade do projeto político vigente sob o governo Lula.
No mérito, há evidentemente considerações de ordem tática, especialmente da conveniência de se ter um pleito polarizado (ou plebiscitário, como queiram), que desnude aos olhos do eleitor, com nitidez, os projetos de nação diametralmente opostos representados pelas candidaturas de Dilma Roussef (do PT) e de José Serra (do PSDB).
No caso, à luz da afirmação dos partidos e não de projetos individuais, caberia louvar a decisão do PSB, porque atenta principalmente ao que considera melhor para os interesses nacionais postos acima de suas próprias conveniências. Mas aí entra em cena o velho jogo de dois pesos e duas medidas, conforme o interesse de quem analisa o fato. Os mesmos que se proclamam defensores do fortalecimento das organizações partidárias agora esbravejam em favor das pretensões do deputado cearense. Apenas e tão somente porque a manutenção de sua candidatura poderia contribuir para “borrar” o debate, evitando o sentido plebiscitário da disputa. Ou seja: em nome do interesse imediato de uma das principais candidaturas postas, que vão às favas as teses pro fortalecimento dos partidos!
Assim não dá, senhores críticos. Um pouco de coerência lhes faria bem – e ao debate acerca do espectro partidário brasileiro.
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