No Vermelho, por Eduardo Bomfim
Jogo de espelhos
Na luta de idéias quando faltam os argumentos políticos, históricos ou teóricos, sobre a análise concreta da realidade concreta, às vezes a coisa sobra para a ideologia que nesses casos sofre tremendamente e paga toda a conta pelos desencontros de certas formulações com os fatos e a vida real.
É o caso específico de Fernando Henrique Cardoso que na ausência de justificativas convincentes contrárias à eleição de Dilma Rousseff, candidata do presidente da República ao pleito de outubro próximo, arremessa contra o governo Lula um rosário de impropriedades no mínimo surrealistas.
Primeiro, o ex-presidente Fernando Henrique, em artigo-entrevista publicado na grande mídia hegemônica nacional, alerta contra a possibilidade da efetivação de um tal de pensamento único no Brasil.
Considerando que no Brasil reinam as mais absolutas e inquestionáveis liberdades democráticas e de imprensa, onde a única hegemonia concreta que existe efetivamente é a dessa grande mídia nacional contra o governo Lula, deduz-se que FHC investe mesmo é contra o apoio da esmagadora maioria dos brasileiros em relação ao governo do atual presidente da República.
Ou seja, o sociólogo, ex-mandatário principal da nação, atenta de fato contra a soberania popular, como se para ele o problema central do Brasil fosse a vigência da democracia plena.
Significa que não descartaria algum tipo de golpe, seja ele qual fosse, contra o resultado das próximas eleições. Dessa maneira, ou não acredita nem um pouco na vitória de José Serra, o seu candidato, ou considera as eleições absolutamente inconvenientes à tentativa de retorno do projeto neoliberal ao Brasil.
Ainda no mesmo artigo-entrevista à grande mídia hegemônica nacional o senhor Fernando Henrique diz que o Brasil marcha para o que considera um capitalismo chinês.
A tradução é que o crescimento econômico, a inserção de milhões no mercado de trabalho, o fortalecimento da indústria, os programas sociais, o soerguimento do Estado e da soberania nacional, seriam resultantes nocivas à doutrina neoliberal, o que seria, nesse caso, o único raciocínio coerente.
Enfim, FHC, em uma única entrevista, lança-se contra a democracia e o desenvolvimento do País. E às avessas, como em um jogo de espelhos, é ele mesmo quem alardeia o pensamento único autoritário, o Estado mínimo impotente e a estagnação econômica.
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