Uma grande via de transmissão BC-mídia-BC foi capaz de criar um verdadeiro clima de terror acerca da necessidade imediata de refrear a “demanda crescente”, ou seja, um movimento de aumento da capacidade de compra sem correspondência com a oferta de mercadorias. Trata-se de insensatez e pura demonstração de poder que tem tudo para redundar em mais um aumento da taxa de juros na reunião do Copom desta semana. Mais um golpe à vista contra a produção.
Por Renato Rabelo*, em seu blog
O boletim Focus, editado pelo Banco Central, parece ser o elo entre o Banco Central e a mídia, um verdadeiro “diário oficial do sistema financeiro”. Esta publicação vem cumprindo o papel de criar uma expectativa inflacionária que se irradia até que o clima gerado se complete com o papel difusor da mídia. Interessante que este clima de terror é muito mais forte atualmente do que em outros momentos com os quais já estamos acostumados. Afinal, o país tem tudo para crescer de forma mais robusta que em tempos anteriores.
A mídia tenta passar a imagem de que a autonomia do Banco Central é componente essencial para o amadurecimento da democracia brasileira. Assim, o aumento da taxa de juros guarda uma vestal de “solução democrática”. Solução esta que permite que um país com as necessidades materiais e dívida social suporte o título das "mais altas taxas de juros do planeta".
O problema é econômico, técnico ou simplesmente político?
A questão é eminentemente política sendo que a economia, neste caso, é a própria extensão da utilização do poder político de um segmento da sociedade, neste caso os sistema financeiro e seu rosto político, o Banco Central. A democracia daqueles que elaboram e executam política monetária no Brasil não permite que outros setores da sociedade sejam ouvidos. Por exemplo, os empresários e os trabalhadores aos olhos do BC estão mais próximos das mulheres e escravos na democracia grega (sem direitos políticos nenhum) do que de setores vivos e pulsantes do 5° maior país do mundo portador da 10° maior economia do planeta.
Mais: esta provável alta da taxa Selic demonstra um grande nível de insensatez e uma demonstração de força. Por quê? Porque apesar um país em que as estimativas de crescimento para este ano estão no patamar de 5%, um país que conseguiu, aos trancos e barrancos, alargar sua estrutura de oferta nos últimos quatro anos. Um mesmo país que não corre – a curto prazo – um risco de crise cambial, e que tem mecanismos fiscais capazes de abrandar problemas de oferta de produtos ao mercado interno (por exemplo, baixando tarifas de importação). Em curtas e outras palavras, um país em que não se prevê no plano imediato nenhuma alta de preços decorrente da falta de determinados produtos. Delfim Netto em sua coluna ao Valor Econômico (“Selic e redistribuição de renda”, 27/04/2010) parece ir ao encontro de nossa conclusão. Segundo ele: “O que se pretende com uma taxa Selic de 12,25 não é a estabilidade, mas uma redistribuição de renda a favor do sistema financeiro”.
* Presidente nacional do PCdoB.
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