Uma vitória da ciência e da física
Renato Rabelo, no Blog do Renato:
Diante do túmulo de Karl Marx, no dia de seu sepultamento, Friedrich Engels fez um famoso discurso sobre as contribuições de seu amigo à ciência social. Num dado momento, referiu-se à alegria de Marx diante de alguma descoberta científica de ponta. Não é difícil descobrir o porquê desta alegria de um dos fundadores do socialismo científico: cada descoberta era uma comprovação da fortaleza da visão de mundo materialista-dialética.
Um fato noticiado semana passada nos remete a esta mesma alegria. O Centro Europeu de Pesquisa Nuclear (CERN) sediada em Genebra foi capaz de criar, sob sucessivas aproximações e repetições, um gigantesco acelerador de partículas nomeado de Grande Colisor de Hádreons (LHC) em condições de simular o Big Bang a partir de choques de partículas. Trata-se de um trabalho em andamento há muitos anos, porém somente agora se conseguiu chegar a um resultado digno do esforço empreendido por estes louváveis cientistas: ultrapassar o nível de atrito causado pelo Big Bang. Assim, respostas mais objetivas sobre a origem do Planeta Terra estarão ao alcance das mãos. O Big Bang, assim, deixou de ser um exercício de pura abstração, para tornar algo concreto no laboratório de onde saiu este extraordinário feito.
Esta experiência significa que a ciência e a tecnologia como forças produtivas primárias atingiu um nível de evolução de tal monta que pode estar ao alcance deste verdadeiro exército de cientistas a solução de imensos males que assolam a vida de bilhões de seres humanos. Tendo um simulador do Big Bang pronto para utilização, a vida de muitos geólogos — empenhados na compreensão da formação geológica do planeta Terra – estará facilitada. A assimilação (não-ideologizada) dos movimentos cíclicos da temperatura e da formação da Terra idem. E aí por adiante.
Um feito deste porte nos obriga a achar a raiz das contradições não somente da sociedade capitalista, a refletir sobre algumas questões. Por exemplo: os problemas relacionados ao grau, de um lado, de desenvolvimento das forças produtivas e por outro lado, da real situação em que vivem mais de dois bilhões de seres humanos impedidos do acesso a recursos elementares, entre eles o direito a água potável e no mínimo a uma alimentação diária. Digo uma alimentação diária e não a três como recomendadas pela Organização Mundial da Saúde.
Atualmente produz-se no mundo o suficiente para alimentar cerca de três vezes a população do planeta. Em pleno século XXI ainda temos notícias sobre o grau alarmante de massas inteiras da população da Terra em estado de pauperismo absoluto. Se o Império Romano caiu pela incapacidade de seu escravismo em dotar a população de seus domínios de uma vida melhor, compreendo que a conta deste estado de coisas deve ser debitada na conta do capitalismo.
Disse recentemente em um seminário promovido pela Fundação Maurício Grabois que a ciência e tecnologia não são um fim em si e sim algo que surge onde as condições para tal sejam favoráveis. Que este logro de largo alcance dos cientistas do CERN nos leve a raciocinar de forma mais séria sobre os destinos da humanidade e do Brasil.
Nenhum comentário:
Postar um comentário