O patético apelo de Grajew
Luciano Siqueira
Dias atrás, manuseando recortes de jornal, encontro em artigo na Folha de S. Paulo, essa pérola de acomodamento ao status quo em matéria de legislação eleitoral e partidária: “As elites empresariais só deveriam financiar e apoiar candidatos com ficha limpa. Elas precisam compatibilizar discurso e prática.”
O autor é Oded Grajew, conhecido empresário, destacado integrante do Movimento Nossa São Paulo e presidente emérito do Instituto Ethos de Empresas e Responsabilidade Social, incluído entre as personalidades de prestígio nacional de pensamento progressista.
Façamos a exegese da frase: “elites empresariais”, você sabe, quer dizer principais detentores do poder econômico; “financiar” significa custear campanhas eleitorais. “Compatibilizar discurso e prática”, no caso, sugere a existência de grandes detentores do capital efetivamente preocupado com a lisura das eleições e na gestão pública.
Tenho cá minhas desconfianças. Mas acredito nas boas intenções de Grajew. No entanto, chama a atenção a sua postura aparentemente acomodada (ou resignada) diante da necessária e sempre postergada reforma política.
Uma reforma política de cunho realmente democrático e moralizador dos processos eleitorais teria que abolir justamente o financiamento privado de campanhas que Grajew toma como mote do seu artigo.
Na realidade, o texto é uma carta dirigida às elites empresariais brasileiras, isto é, às lideranças compostas pelos dirigentes das maiores empresas e das entidades representativas do setor. Onde o autor afirma que apesar do evidente progresso que o Brasil vem experimentando, ainda são negativos “nossos indicadores sociais, a qualidade de nossos políticos e dos serviços e políticas públicas, o funcionamento do nosso sistema judiciário, os índices de degradação ambiental, a violência na sociedade e a corrupção nas relações sociais, econômicas e políticas”.
Assinala ainda que “nossas elites empresariais são muito poderosas. A maioria dos nossos políticos (e na democracia a maioria decide) são simples representantes das empresas que financiam suas campanhas”. Por isso apela justamente a essas “elites empresariais” para financiem os candidatos bem intencionados (sic).
Do arrazoado de Grajew se depreende a absoluta necessidade de incluir o tema da reforma política – o sistema de lista partidárias e o financiamento público de campanhas – no debate eleitoral que se avizinha. Para que não continuemos à mercê do poder econômico nas eleições.
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