Dunga e os preparativos para a campanha eleitoral
Luciano Siqueira
Não podia ser diferente, pois somos um país de cento e setenta milhões de técnicos de futebol. Dunga começa a receber uma saraivada de críticas por não ter convocado para a seleção verde-amarela alguns dos chamados artistas da bola – destacadamente Ronaldinho Gaúcho e os jovens recém-revelados pelo Santos, Neymar e Paulo Henrique Ganso -, optando por manter em sua lista atletas não tão brilhantes, porém reconhecidamente eficientes. Pelo menos na execução do plano tático adotado pelo técnico há aproximadamente três anos, com êxito.
A Dunga há que se tributar coerência – atributo nem sempre presente em muitos que, como ele, tem a responsabilidade de lidar com expectativas, paixões e pressões de toda ordem, reverberadas em tom agressivo (e em certa medida suspeito) pela grande mídia. Desde que assumiu o comando da seleção adotou uma linha de conduta, experimentou variações táticas e, se não me engano, mais de uma centena de atletas. Fez testes válidos relativos a comportamentos em campo e extra-campo. Trabalhou com um conjunto complexo de variáveis. Chegou, enfim, no curso de uma trajetória de bons resultados, a conclusões a que agora pretende ser fiel. A Copa lhe dará razão ou não. Veremos.
E que tem a ver isso com a atual fase pré-eleitoral? Tudo a ver, em termos comparativos. Porque à semelhança da palpitaria em torno da convocação feita por Dunga, cá na esfera política se debate hipotéticas táticas eleitorais com boa dose de emoção e artificialismo e suposta influência dos chamados marqueteiros. Caso de Serra, que postado na oposição ao governo Lula, ensaia um discurso dúbio: ora se diz comprometido com que vem sendo realizado, ora solta o verbo justamente contra elementos essenciais das políticas em vigor – como, por exemplo, quando afirmou ser o Mercosul empecilho ao desenvolvimento do País. Sabe-se que o fortalecimento do Mercosul tem tudo a ver com a integração do subcontinente sul-americano, uma das pedras de toque da atual política externa.
De outra parte, alguns também recomendam mudanças substanciais na imagem pública da ex-ministra Dilma, como se fosse possível divorciar perfil e imagem da candidata sem comprometer a sua capacidade de conquistar a confiança do eleitorado. Um despropósito, sobretudo porque o seu principal trunfo é justamente o programa que defende para o Brasil.
Soluções artificiais ou improvisadas em geral não dão certo. A vitória de Collor foi uma exceção, como a convocação de Pelé aos dezessete anos de idade, na Copa de 1958.
Quem comanda a seleção canarinho tem que ser coerente – e verdadeiro. Tanto quanto quem se oferece como opção para governar o País.
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