No Vermelho, por Eduardo Bomfim
Chuvas, dores e esperanças
Mais uma vez o Estado de Alagoas é assolado pela fúria da natureza e vinte e oito municípios são atingidos pelo desastre, quinze em estado de calamidade pública. Trata-se de um drama de enormes proporções com cidades inteiramente arrasadas que mais parecem vítimas de bombardeios aéreos pesados.
Encontrei-me em Palmeira dos Índios com o Marcelo, prefeito de Quebrangulo, ali vizinho, absolutamente arrasado com as tenebrosas condições da cidade e do município, discutindo, responsável e tensionado, as ajudas e as formas de socorro tão necessárias e urgentes.
Entre os sertanejos, acostumados com as adversidades da natureza, inclemência do clima árido, apesar do verde do inverno, o temperamento humano e seco, o sentimento tem sido de solidariedade e emoções contidas, muito típico de uma gente curtida na carne e no jeito, e como disse Petrúcio, fazedores de poemas de pedras.
É verdade. Nas minhas andanças pelo Estado, conversando com as pessoas, vivenciei a reação dos alagoanos a essa catástrofe de extensa magnitude em dezenas de municípios, sob o olhar e a cultura dos sertanejos de Palmeira dos Índios a Santana de Ipanema e entre as duas cidades pólos, outras como Major Isidoro.
E de Maceió aos espíritos sóbrios das terras das almas dos fortes, como se fala dos sertanejos, a postura é sempre a de que se impõe a união dos alagoanos, sem exceção de ideologias e partidos, na defesa dos irmãos atingidos pelos caminhos do Paraíba e do Mundaú.
Chama-se a isso de centralidade da questão regional (a alagoana) para se combater as vicissitudes dos semelhantes da mesma terra, da mesma cultura e das mesmas identidades, das mesmas sortes e das mesmas sinas.
É também unânime a certeza de que será rechaçada qualquer atitude oportunista de aproveitadores, políticos ou para enriquecimento, das dores provocadas pela tragédia que nos assola.
Mas atenção porque ninguém demonstra que irá tolerar a postura demagógica de sob o justo argumento da união dos alagoanos para enfrentar tamanha catástrofe, abstraia-se a análise dos problemas políticos, administrativos ou técnicos que ficam expostos em nossa realidade.
O alagoano é sábio na compreensão da realidade em que vive e sabe muito bem formular as suas críticas e sonhar com suas esperanças possíveis e realizáveis. Já se foi o tempo de uma plebe rude, resignada aos comandos de uma aristocracia reinol de punhos de renda e talheres de prata.
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