E se a seleção de Dunga ganhar a Copa?
Luciano Siqueira
Ainda é cedo para pensar na Taça. Copa do Mundo é um torneio – tenso, difícil, onde nem sempre a técnica e o talento vencem. Algumas das melhores seleções do mundo, que encantaram os torcedores à sua época, perderam a final para adversários apenas voluntariosos e disciplinados ou mesmo ficaram no meio do caminho vitimas de um erro banal em partida decisiva. É que passada a fase classificatória, das oitavas de final em diante vale o mata-mata: é vencer ou voltar para casa.
Viveram situações assim a Hungria de 1954, a Holanda em 1974 e 1978, o Brasil de Telê Santana de 1982.
Pois bem. Está cedo, sim, para avaliarmos nossas possibilidades na África do Sul. Igualmente cedo, cedo demais!, para tanto impropério contra o técnico Dunga e nossos craques. Impropério pode ser um termo pesado demais, mas não descabido.
Tenho lido os jornais e visto, de vez em quando, programas de TV e escutado resenhas nas rádios em que a pauta quase única é a Copa do Mundo. Poxa, os caras reclamam de tudo: desde o humor embirrento do técnico à ausência de Ronaldinho Gaúcho. Botam defeito em tudo. E especulam sobre o bom relacionamento dos jogadores, sobre a suposta contusão de um ou má fase de outro... e esquecem de falar das virtudes do escrete verde-amarelo!
Bom, é assim mesmo – o leitor pode arguir. Afinal futebol é pura paixão, esperar equilíbrio e razão dos “analistas” especializados é bobagem. E é até bom que falem mal, pois foi assim em 1958 e nas demais quatro vezes em que vencemos o torneio.
Mas, convenhamos: por que não premiar leitores, ouvintes e telespectadores com uma pequena dose que seja de racionalidade? E de patriotismo, gente – se é que “a seleção é a Pátria de chuteiras”, como assegurava Nelson Rodrigues.
Cá com meus botões, faço a ressalva de que faz muito tempo que o futebol – mesmo em época de Copa do Mundo – deixou de emocionar muito. Tem mais de duas décadas que a minha pauta de vida se tornou enxutérrima. Apenas três assuntos realmente me emocionam: a luta do povo (incluindo aí o Partido a que pertenço desde 1972, o PCdoB), as mulheres que amo e as amizades. O restante se tornou secundário, circunstancial. Termina o jogo do Brasil, vencendo ou perdendo, pego um livro e logo me dedico ao prazer da leitura. Antigamente varava a noite em intermináveis discussões sobre detalhes da partida, o desempenho de Fulano e de Beltrano e assim por diante.
Isto posto, confesso que desta vez tenho uma razão além do patriotismo esportivo para torcer pelo sucesso da seleção: Dunga.
Perdôo o mau humor do nosso técnico, acho que o que chamam de teimosia nele é coerência e admiro a sua determinação em seguir o rumo traçado. Mais: entendo que escolheu o elenco certo (embora, como bom brasileiro, se me fosse permitido opinar, preferia trocar uns dois ou três). Por isso fico a me perguntar: se a seleção conquistar a Copa, que dirão os sábios agourentos dessa tropa de choque que bota gosto ruim em tudo? Pedirão desculpas a Dunga e reconhecerão o brilho dos nossos craques? Terão a humildade necessária a uma autocrítica?
Nenhum comentário:
Postar um comentário