Quem nos dera um robô desses!
Luciano Siqueira
Dia desses um amigo viciado em livros, como eu, comentou que todo um piso da Biblioteca Pública do Estado tem o seu acervo inacessível ao público para evitar danos, tais as precárias condições de conservação. Não conferi, mas não será surpresa se assim estiver acontecendo – igual a muitas bibliotecas por todo esse imenso Brasil.
Dá-se pouca importância a bibliotecas em nosso país, infelizmente. De modo que leio com satisfação, e uma indisfarçável ponta de inveja, que um robô vai digitalizar, até 2012, cem mil livros da coleção do empresário José Mindlin e da Universidade de São Paulo. Quem nos dera um robô desses!
O tal robô – um Kirtas APT 2.400 BookScan – custa cerca de 220 mil dólares. Foi adquirido pela Fundação de Amparo à Pesquisa de São Paulo (Fapesp) e doado à USP. Segundo reportagem na Carta Capital, ele é capaz de ler 2.400 páginas por hora, de modo que um livro de 300 páginas, por exemplo, pode arquivado num computador em apenas oito minutos.
Mais fantástico é o resultado. Imagine que raríssimos exemplares de autores como Machado de Assis, José de Alencar e Joaquim Manoel de Macedo; os Sermões do Padre Antônio Vieira; gravuras de Jean-Baptiste Debret – pertencentes ao empresário – depois de concluído todo o processo (após digitalizado, o livro é examinado por pesquisadores através de soft-wares livres e customizados), manuscritos, mapas, ilustrações as mais diversas, textos antigos se tornam disponíveis a todo e qualquer cidadão interessado. Gratuitamente.
E não ficará apenas no acervo citado. Futuramente se poderá fazer o mesmo com acervos de outras bibliotecas igualmente importantes.
Tudo ainda está em fase experimental, mas você já pode fazer seu próprio teste acessando o endereço http://brasiliana.usp.br/. Eu já fiz e me dei muito bem, tendo acesso à edição da História do Brasil (1627), de Frei Vicente do Salvador, preparada por Capistrano de Abreu, que já está online.
Além da democratização do acesso a tão extraordinário acervo, várias outras serventias vêm junto – como a facilidade de realização de pesquisas e estudos diversos e a preservação de parte significativa da cultura brasileira e universal.
Também duas verdades são demonstradas: a informática e a internet não “matam” o livro, antes o complementam e o fortalecem; e servem para muito mais do que armazenar e difundir o “lixo” intelectual produzido diariamente a muitas mãos e consumido por internautas semi-alienados.
Pernambuco tem realizado em seu território parte de nossa História e de nossa cultura. Guarda acervos importantíssimos. Bom seria se tivéssemos um robô desses na terra de Gilberto Freyre, José Antonio Gonçalves de Mello Neto, Pereira da Costa e Carlos Pena Filho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário