Vencer o segundo turno com o Programa na mão
Luciano Siqueira
Coisa de militante “sisudo”? A expressão, algo inusitada, me é lançada por um eleitor que votou em mim para deputado estadual e em Luciana Santos federal, numa breve conversa sobre o segundo turno do pleito presidencial. Ele pede mais emoção na campanha de Dilma, sobretudo na TV, e desdenha de minha insistência em se debater programas. Por mais que concorde que, no segundo turno de 2006, o confronto de ideias entre Lula e Alckmin não apenas deu conteúdo à disputa, como contribuiu em muito para a consolidar a vitória de Lula.
Eu seria “sisudo”, mesmo tendo feito uma campanha marcada pelo entusiasmo militante, pela poesia e pela emoção– o que ele reconhece e elogia. “Mas não acho tão necessário discutir programas agora, o eleitor está longe disso”, insiste.
Mantenho minha posição, amigo. Até porque em minha modesta campanha de deputado fiz permear todos os encontros, reuniões, visitas a escolas e a locais de trabalho, e até caminhadas (quando possível), por um misto de problemas imediatos com as soluções estruturais para os problemas de Pernambuco e do País. E obtive ótimos resultados – tanto no que se refere a conquistar apoiadores ativos, e por extensão a votação desejada; como novos e futuros militantes do PCdoB.
Isso me faz lembrar uma conversa mantida pelo marqueteiro Duda Mendonça com o então prefeito do Recife, João Paulo e eu, no início da campanha (vitoriosa) de nossa reeleição no Recife, em 2004. “Nosso alvo são os eleitores indecisos”, dizia o marqueteiro. “A militância vota de qualquer jeito, satisfeita ou insatisfeita, não deve nos preocupar”. Uma assertiva equivocada, que rejeitamos, João Paulo e eu, por sabermos o valor do exército de militantes orgânicos e não orgânicos numa campanha eleitoral politizada, como se costuma travar em Pernambuco. E nada me autoriza a pensar que no conjunto do País seja diferente.
É preciso valorizar a elevação gradativa do nível de consciência política de parcelas expressivas do eleitorado brasileiro – na história recente desde a campanha das Diretas-já e da derrocada da ditadura, entre 1984-85. Vencer uma disputa da magnitude da presidência da República implica na mobilização de forças sociais, sobretudo da grande massa que hoje se sente beneficiada pelos êxitos do governo Lula.
É aí que entra a indispensável discussão programática, obviamente traduzida em linguagem simples e compreensível, para alimentar o entusiasmo e a vontade consciente de milhões que, filiados ou não a partidos políticos, podem e devem tomar parte ativa na peleja.
Além disso, a discussão programática se presta à demarcação de campos entre o que representam as candidaturas de Dilma e Serra, e assim ao esclarecimento do eleitor a quem cabe escolher os rumos a serem trilhados pelo País.
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