O fator Nordeste na sucessão presidencial
Luciano Siqueira
Segundo turno, reta final da peleja pela presidência da República, cotejam-se índices de preferência do eleitorado sob múltiplos ângulos – dentre eles, as diferenças regionais. O Nordeste desponta, tal como no primeiro turno, como fator importante, talvez decisivo, na quebra de braço entre Dilma e Serra.
Os tucanos, numa linha de coerência oportunista a toda prova, tratam de desqualificar o voto do nordestino, atribuindo-o tão somente à cobertura dos programas sociais. “É o voto dos beneficiários do Bolsa Família”, argumentam.
Nada mais falso. Se assim pensa o tucanato, das duas uma: ou é a mentalidade distorcida de quem vê o Brasil pela ótica da Avenida Paulista, ou mesmo a tentativa de obscurecer um relevante dado da realidade. Certamente as duas coisas.
Daí a oportunidade do artigo “O voto do Nordeste: para além do preconceito”, da professora Tânia Bacelar, que circula repercute amplamente.
Tânia ocupou a Secretaria Nacional de Desenvolvimento Regional no primeiro governo Lula, onde deu contribuição marcante na formulação da política nacional de desenvolvimento regional – ou seja, na abordagem das desigualdades a partir de uma visão global de Nação.
No artigo em que se contrapõe ao torpe e preconceituoso argumento dos tucanos a propósito da vantagem de Dilma no Nordeste, Tânia demonstra com raciocínio claro e dados precisos o quanto o conjunto de políticas públicas encetadas pelo governo Lula tem resultado em alterações importantes na economia regional, com expressivas repercussões sociais. Diz ela que apenas os programas sociais “não são suficientemente numerosos para responder pelos percentuais elevados obtidos por Dilma no primeiro turno : mais de 2/3 dos votos no MA, PI e CE, mais de 50% nos demais estados, e cerca de 60% no total ( contra 20% dados a Serra).” E que uma “marca importante do Governo Lula foi a retomada gradual de políticas nacionais, valendo destacar que elas foram um dos principais focos do desmonte do Estado nos anos 90. Muitas tiveram como norte o combate às desigualdades sociais e regionais do Brasil. E isso é bom para o Nordeste.”
Observa Tânia que “ao invés da opção estratégica pela “inserção competitiva” do Brasil na globalização - que concentra investimentos nas regiões já mais estruturadas e dinâmicas e que marcou os dois governos do PSDB -, os Governos de Lula optaram pela integração nacional ao fundar a estratégia de crescimento na produção e consumo de massa, o que favoreceu enormemente o Nordeste.” Não é sem razão, por isso, que o Nordeste liderou o crescimento do emprego formal no país com 5,9% de crescimento ao ano entre 2003 e 2009, taxa superior a de 5,4% registrada para o Brasil como um todo, e aos 5,2% do Sudeste, segundo dados da RAIS.
Ora, se muda a vida imediata dos norestinos e se abrem-se expectativas de um ciclo de creescimento duradouro, economicamente sustentável, por que os eleitores desta parte do País haveriam de optar por Serra e pelo retrocesso à era FHC?
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