Dilma e a luta pela igualdade de gênero
Luciano Siqueira
Nas duas gestões consecutivas do prefeito João Paulo, no Recife, de quem fui com muita honra o vice-prefeito, adotamos como rotina recepcionar novos funcionários concursados com uma breve conversa, na qual discutíamos temas relevantes que incidem sobre a gestão pública. Na minha fala, invariavelmente introduzia a questão de gênero, que incluo entre os pilares de um governo de sentido popular e democrático.
Quando a leva de concursados pertencia à área da educação, em geral mais de oitenta por cento se compunha de mulheres. O que me permitia observar um fato curioso: enquanto discorria sobre o tema, apenas uma parte diminuta da plateia manifestava concordância com leve meneio de cabeça. A maioria, cenho cerrado, parecia não compreender o assunto – mesmo exposto de maneira simples – e estranhava que justamente o vice-prefeito, e não uma mulher, o estivesse abordando. Reflexo do fato de que no Brasil não apenas a questão de gênero ainda não ganhou dimensão de massas, como a maioria das mulheres conserva concepções machistas.
Agora, a partir de janeiro, o Brasil será presidido por uma mulher. E isso tem uma relevância particular.
Dilma ressaltou durante a campanha a importância da mulher na sociedade brasileira – sem, entretanto, aprofundar o debate. Provavelmente porque o adversário impôs o rebaixamento do confronto de ideias, trazendo a primeiro plano, de maneira distorcida, a questão do aborto e da religião. Mas isso não reduz o impacto de sua assunção à presidência da República na formação de uma consciência social avançada. Assemelha-se à vitória do operário Lula em 2002, que engendrou entre os que sobrevivem do seu trabalho e em vastas camadas populares uma enorme elevação da autoestima e da confiança na própria força.
“A igualdade de oportunidades para homens e mulheres é um principio essencial da democracia”, assinalou a presidenta eleita em seu discurso na noite do dia 31. E concitou os pais e mães de meninas a olharem nos olhos de suas filhas e a dizerem “SIM, a mulher pode!”
Podemos todos nós, mulheres e homens que se batem pela transformação da sociedade brasileira inspirados em ideias avançadas, fazermos bom uso da oportunidade que se abre para o fortalecimento da luta pela igualdade de gênero.
Congratulações, Luciano, pelo oportuno e substantivo artigo. A eleição de Dilma para a presidência do Brasil deverá ser um fator relevante para impulsionar o movimento das mulheres em sua luta pela igualdade. Avanços foram obtidos, nesses últimos anos, mas ainda falta muita coisa. Na área trabalhista, por exemplo, de acordo com dados da Pnad, trabalhados pelo SIS/2010 - Síntese de Indicadores Sociais, as mulheres percebem, em média, 70,7% dos salários pagos aos homens no Brasil. Particularizando-se o segmento da indústria, esse percentual é de 60,9%. Sabe-se que a questão é complexa e envolve lutas mais amplas, associadas aos direitos humanos e à dominação econômica, com prejuízos para humens e mulheres. Criar condições para uma sociedade mais justa, com investimentos em infraestrutura social (educação, creches, lazer, saúde, etc) contribuirá, bastante, para melhorar a qualidade de vida das pessoas, minimizando os conflitos sociais. A nova presidente do Brasil tem uma tarefa árdua, mas poderá contar com o apoio de pessoas e instituições que defendem o socialismo.
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