06 janeiro 2011

Minha coluna semanal no portal Vermelho

Perdão, Coelho Neto
Luciano Siqueira


Li outro dia que Coelho Neto deixou setenta e quatro títulos publicados. Senti vergonha. Moro desde 1984 na Rua Coelho Neto e jamais li qualquer coisa escrita pelo homenageado. Dele sabia ter sido um combativo abolicionista e pertencido à geração de Olavo Bilac e José do Patrocínio. Jornalista, escritor, gestor público. Só.

Consta em apostilas preparatórias de exames vestibulares que ele experimentou distintas tendências literárias - o naturalismo, o impressionismo, o regionalismo, o realismo, entre outras. Nos testes de múltipla escolha, assinale a letra correspondente a “escritor pré-modernista”.

Tudo bem. Mas o que me embaraça é que justo um cara como eu, viciado em livros e apreciador da boa literatura brasileira, jamais tenha manuseado um volume do escritor que um dia a Câmara Municipal do Recife escolheu para denominar a minha rua.

Conheço um caso de reprovação no vestibular de medicina da Universidade Federal de Pernambuco, da época em que se fazia prova oral, precisamente porque o aluno não se dera ao trabalho de investigar quem fora, na História, o vulto de quem tinha o nome, escolhido pelo pai atento ao Egito antigo. Chamava-se Quéops, aquele de uma das três pirâmides. A prova era de biologia, e o professor Bezerra Coutinho (de quem fui aluno de Patologia Geral na antiga Faculdade de Medicina), tido como gênio de vasta cultura, não perdoou a desatenção do vestibulando. Tacou-lhe um zero sem sequer lhe perguntar sobre animais, plantas ou protozoários.

Bem que eu mereço igual pena. Mas, como há tempo para tudo, tento me redimir. Procuro nos sites das principais livrarias e nada encontro do renomado autor. Interesso-me por romances, busco os livros de contos e fico na mesma. Fora de catálogo, dizem.

Bom, farei ainda uma última tentativa: os sebos. Não é possível que em algum sebo não esteja perdido num canto de alguma prateleira um romance, uma coletânea de contos ou uma peça teatral (dentre mais de uma dúzia que escreveu).

Prometo que o lerei o achado com toda atenção e total predisposição a gostar. Sinceramente, a essa altura do campeonato, devedor que sou, e ainda mais sem as credenciais necessárias a uma rigorosa leitura crítica, não me sinto à vontade para outra atitude que não seja bem receber os escritos de tão importante autor. Numa escala de zero a dez, pelo menos seis e meio eu darei. Com certeza.

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