19 fevereiro 2011

PCdoB tem um projeto audacioso para as eleições de 2012

Em entrevista ao portal iG, publicada nesta sexta (18), o presidente do PCdoB, Renato Rabelo, revelou que o partido vai disputar prefeituras em importantes capitais, como São Paulo e Porto Alegre. Ele também abordou as relações dos comunistas com o Partido dos Trabalhadores (PT) e o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Leia abaixo a íntegra da entrevista:

iG: O PCdoB já traçou uma estratégia para 2012?

Renato Rabelo : O PCdoB levou 15 anos tendo somente candidatos proporcionais e assim mesmo concentrando em algumas candidaturas. De 2004 e 2006 para cá começamos a mudar essa orientação e ter candidaturas majoritárias. Agora pretendemos ir mais ainda. Em 2010, fomos o quarto partido mais votado para o Senado, mais até do que o DEM. E se tivemos estes votos é porque temos lideranças importantes. Essa acumulação eleitoral vai desembocar em 2012. O que a gente chama de projeto 2012 é o maior da história do PCdoB. Podemos até eleger prefeitos de capitais, como por exemplo a Manuela (D’Ávila) em Porto Alegre, onde podemos contar com apoio até do PT. O governador Tarso Genro (PT) admite que PCdoB teve um papel importante na eleição dele. Em São Paulo queremos dar peso à candidatura do Netinho de Paula.

iG: O senhor disse que durante 15 anos o PCdoB só teve candidaturas proporcionais. Isso se deve em grande parte aos apoios oferecidos ao PT. Em 2012 essa relação vai mudar?

RR: Na evolução política há sempre variações nas relações. Não se pode dizer que uma relação política vai ser igual a vida inteira. Toda aliança é fruto de um momento. Tudo na vida é assim. Pode mudar para melhor ou para pior. Pode mudar para uma aproximação maior ou para um afastamento. Nós tivemos sempre uma relação de primeiro nível com o PT. O que acontece agora é que o PT é o partido hegemônico na esfera federal e luta para manter essa hegemonia. Exatamente por isso pode cometer erros, tender a querer uma hegemonia absoluta. Se nesse processo não houver entendimento e confiança mútua pode criar problemas e afastamentos, uma reação em sentido contrário, uma frente contra o partido hegemônico. Isso a história mostra. Então cabe ao PT uma grande responsabilidade que é exercer uma hegemonia que dê harmonia à aliança. Do contrário essa aliança pode se quebrar ou até pior, surgir uma antialiança ao PT. Pode até haver separação. Depende da atitude de cada partido.

iG: A forma como o PT tem lidado com a divisão de cargos do governo Dilma é um risco?

RR: O governo está começando. Ainda não se pode dizer. Mas vai ser um fator indicador importante e vamos levar em conta tudo isso. Não vamos raciocinar com o fígado mas se a atitude é política vamos responder politicamente. Dentro das nossas condições, é claro.

iG: Qual é sua opinião sobre a aproximação do PCdoB com Gilberto Kassab?

RR: Há uma convergência com o prefeito em algumas questões políticas que já vem de um ano ou mais. O episódio da mesa da Câmara de Vereadores (onde o PCdoB apoiou Kassab contra o PT) mostra isso. Nós apoiamos o candidato do prefeito porque aquele grupo dominava a mesa há muito tempo. O prefeito Kassab resolveu enfrentar essa questão e nós tivemos um papel importante porque nossos dois vereadores foram a fiel da balança. Kassab está determinado em vir para um partido da base de apoio do governo federal. É por isso que houve essa aproximação. Para o PCdoB, a definição política dele é muito importante. Não vamos fazer aliança com pessoas que estão do lado político que não é o nosso. Em resumo: não estamos indo para o lado do Kassab. O Kassab é que está vindo para o lado de cá.

iG: O PCdoB vai participar da administração Kassab?

RR: Neste processo de aproximação ele aventou a possibilidade de oferecer esta secretaria que não existe ainda, que é a secretaria dita especial para preparar a Copa de 2014 em São Paulo. A cidade está enfrentando uma série de problemas. Nem o estádio foi construído. O que ele diz é que o PCdoB já está na área e poderia levar adiante esta questão. Não sei exatamente se ele já fez o convite.

iG: Existe alguma identificação ideológica ou programáticas entre Kassab e o PCdoB?

RR: Proximidade ideológica do PCdoB com os outros partidos é muito pequena porque cada partido tem sua ideologia. Com o Kassab não há uma identidade ideológica, há aproximações políticas. Se tivéssemos, por exemplo, a mesma ideologia que o PT nós seríamos do PT, faríamos parte do PT.

iG: O PCdoB concorda com a forma como Kassab administra a cidade, com as políticas do governo dele para, por exemplo, a questão dos moradores de rua?

RR: Não temos ainda uma aliança formal e é evidente que existem diferenças importantes do PCdoB com ele. Uma das questões que a gente coloca como um divisor de águas é o tratamento dado aos movimentos sociais. E aí entra a questão dos moradores de rua. Para o PCdoB, esta é uma questão que pesa muito. A aliança política é um processo. Na medida em que ele vem para o lado de cá tem que dar demonstrações políticas que nos identifiquem. O PCdoB nunca coloca de lado a plataforma política. Ninguém pode apontar que o PCdoB fez alianças de momento, fisiológicas. Como é que vou explicar para a militância? Isso é uma convergência que vai se dando.

iG: Já se falou que Kassab pode ir para o PMDB, fundar um partido, ir para o PSB. O PCdoB acolheria o prefeito?

RR: Os caminhos mais naturais para o prefeito são o PMDB ou o PSB. Podemos tê-lo como aliado. Acho até que tem havido progressos na negociação dele com o PSB. Outra possibilidade seria fundar um novo partido. Porque aí ele manteria o mandato e num segundo momento este partido poderia se fundir a outro da base aliada de Dilma como, por exemplo, o PSB. É uma saída, embora fundar um partido no Brasil hoje não seja uma coisa fácil.

iG: Apesar da aproximação com a base do governo Dilma, Kassab continua fiel a José Serra e mantém muitos serristas em cargos importantes da prefeitura. O rompimento com Serra é uma imposição para a aliança?

RR: O PCdoB não vê essas coisas como absolutas. O que interessa para o partido é a tendência que vai se esboçando. Na prática, o prefeito já está se identificando mais com a base de Dilma e formalmente ainda tem vínculos com Serra, mas é só formal.

iG: Mas ele mantém muitas pessoas ligadas a Serra na prefeitura.

RR: Tudo isso não se faz da noite para o dia. Se a tendência fosse de manter o vínculo com a oposição se tornaria mais difícil uma aliança. Se ele tem compromisso com o Serra, e ele disse que tem, o que mostra até uma certa honestidade dele, poderia dizer que deve a Serra compromissos que Serra realizou. Kassab diz claramente que o Serra foi leal com ele e agora está retribuindo a lealdade.

iG: O PCdoB espera uma ruptura de Kassab com José Serra?

RR: O Kassab vindo para a situação se afasta naturalmente do Serra. Ele vai criando essas condições, as pontes vão sendo queimadas e a essa altura não tem como haver retorno. A oposição está desbaratada, é natural que uma parte da oposição se desgarre.

Fonte: iG

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