15 março 2011

Meu artigo semanal no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

Kassab, amplitude e pluralidade
Luciano Siqueira


Em política, se é certo que tudo pode acontecer, é igualmente certo que em alguns casos é melhor esperar para conferir – sem precipitações. É o que se dá com a movimentação do prefeito Gilberto Kassab (DEM), de São Paulo, supostamente no sentido de formar nova legenda partidária e, desse modo, transferir-se para a base de apoio ao governo Dilma. No meio do caminho, a interlocução com correntes de esquerda, destacadamente o PSB do governador Eduardo Campos.

O DEM naturalmente se sente incomodado com isso. Pode perder o governo da maior cidade do país, terceiro PIB nacional (atrás apenas da União e do estado de São Paulo), de importante influência na cena política. E, dessa forma, se enfraquecer mais ainda, desmilinguido que saiu das últimas eleições gerais.

De outra parte, à esquerda, registram-se manifestações de desacordo em relação à possível mudança de posição do prefeito paulistano. A deputada Luiza Erundina, por exemplo, tem manifestado desconforto com a aproximação de Kassab com o seu partido, o PSB.

Confirmando-se a fundação do novo partido – que, especula-se, contaria inicialmente com cerca de vinte deputados federais – e o deslocamento de Kassab e seguidores para o centro-esquerda, a rigor não se tratará de fenômeno original na cena política. Num país marcado por enormes desigualdades e diversidades regionais, em cuja história institucional não pontificam legendas partidárias sólidas e duradouras (exceção do Partido Comunista que se mantém ativo há exatos oitenta e nove anos), o surgimento de novos partidos de características meramente conjunturais, assim como a transferência de grupos políticos de um campo a outro tem sido comum. Basta que se examine a ampla base de sustentação do governo Dilma e, na província, do governo Eduardo Campos, para se constatar que parte considerável dos que hoje se aliam à esquerda esteve perfilada no centro-direita na “era FHC” (para não retroagirmos mais longe).

A questão é se cabe ou não às correntes de esquerda que nucleiam o projeto nacional em curso devem ou não agregar novos apoios. Parece óbvio que sim, tal como se acontecesse em meio a um confronto aberto entre exércitos poderosos e, num dado instante, destacamentos do inimigo, por razões diversas, resolvessem migrar para nossas hostes. Não teria sentido solicitar aos novos aliados que voltassem às fileiras inimigas e combatessem contra nós. Trata-se, pois, de alteração na correlação de forças – saudável, desde que as novas adesões não signifiquem mudança de rumo, nem alteração substancial do programa estabelecido.

Superar definitivamente os entraves de cunho neoliberal que travam o desenvolvimento do país implica juntar forças as mais amplas possíveis, administrando com habilidade e consequência a complexa pluralidade estabelecida na coalizão governista – que ganhará reforço se o prefeito paulistano e seu grupo confirmarem a propalada travessia.

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