Da relatividade da elegância e do charme
Luciano Siqueira
Já recebi elogios diversos. Uns sinceros, outros pura bajulação. Ainda bem que, senso autocrítico acurado, sei separar uma coisa da outra; inclusive distinguir dentre os elogios sinceros os que correspondem à realidade e os que são erros de avaliação do observador (ou observadora). Mas tem um elogio que nunca recebi: o de me vestir bem. Isso não. E, bem sei, jamais o mereci.
A bem da verdade, nem me importo com o assunto. Tenho muito mais do que cuidar. Mas não é assim que pensa o jornal francês Le Figaro, que outro dia gastou tempo, dinheiro, tinta e papel para eleger os vinte homens mais bem vestidos do mundo.
Na lista despontam o presidente norte-americano, Barack Obama, o criador do Wikileaks, Julian Assange, o diretor e estilista Tom Ford e o vencedor do Oscar de melhor ator Colin Firth.
Li sobre isso em algum lugar e confesso que passei por cima dos comentários acerca de cada um dos agraciados. Tem qualquer coisa que relaciona a roupa certa com a ocasião e o carisma. Sempre de figuras presentes na grande mídia, claro.
Então, cá com o meu jeito de ver as coisas e as pessoas, pergunto: se entre os observados se incluíssem muitos anônimos que pelejam por esse mundo afora e fazem boa figura com a estampa e a indumentária? Juro que, numa apreciação desprovida de preconceito, um vaqueiro nordestino disputaria os primeiros lugares. O cara dá um duro danado a perseguir bois bravos no entrelaçado da caatinga, sob sol estorricante, um exercício físico que deixa pra trás as melhores academias de ginástica. O resultado é um sujeito esguio, atlético e, quando pronto para a luta, de gibão e tudo... Existe alguém mais bem vestido? E tão elegante?
E que dizer dessas meninas curtidas de sol, corpo quase perfeito, que caminham com a leveza de uma deusa conduzindo na cabeça, sobre rodilha de pano, latas d’água pelos nossos sertões?
Nesse caso, e em milhões de outros nos cinco continentes, se o crivo for um misto de roupa, postura e carisma sei não, preconceitos à parte, os caras eleitos pelo Le Figaro não estão com essa bola toda.
Experimente olhar pela janela do prédio as pessoas circularem na rua, feito o personagem de James Stewart em Janela Indiscreta (Rear Window), de Hitchcock. Tem de tudo: gente desengonçada, é verdade; mas homens e mulheres que, mesmo em trajes simples, dão um show no jeito de andar, de cumprimentar as pessoas.
Fica, portanto, a constatação de que esse negócio de elegância, de gente bem vestida e tal é muito relativo. Depende muito de quem observa.
Só não há saída para um cara como eu, que além de desajeitado pagaria um milhão de dólares, se pudesse, para não ser observado, tamanha a timidez que, bem sabemos, é a inimiga número um do charme.
Eita, me vejo em situação bem parecida...sobre a "pouca" elegância na vestimenta e timidez, q qual pagaria "milhões" para também não ser observada...rsrsr
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