Mutirão da biblioteca
Carminha Bandeira
Publicado na Interpoética
Há aproximadamente duas semanas teve início o mutirão de construção da Biblioteca Comunitária Caranguejo Tabaiares (BCCT). Essa biblioteca já tem mais de cinco anos e surgiu da iniciativa de um grupo de moradores da comunidade Caranguejo Tabaiares, que fica na Ilha do Retiro, próxima ao SEBRAE, ao Sport Club do Recife e à Universidade de Pernambuco.
O envolvimento dos jovens da comunidade com o projeto da biblioteca é o ponto alto de sua sustentabilidade, mas eles também contam com o apoio de outras instâncias locais, como o Grupo dos Idosos (coordenador por Cleonice, conhecida por Nice) com quem mantém uma firme parceria a Associação de Moradores e o Centro Publico de Economia Popular e Solidária “Maria Luzinete Costa”.
O forte senso de organização, solidariedade e espírito coletivo de seu coordenador Reginaldo Pereira é responsável pela mobilização de várias entidades que colaboram com a BCCT. Além das entidades citadas acima, situadas no seu entorno, a biblioteca conta ainda com a contribuição do ETAPAS, SEBRAE, FCAP, da FAFIRE, da Fundação de Cultura Cidade do Recife, do Programa Manuel Bandeira, do Programa Pernambuco Lendo, Companhia Criativa e outras. E com a solidariedade de uma Rede de Amigos, cujos integrantes ajudam com serviços e às vezes com pequenas contribuições financeiras.
Desde 2007 a BCCT integra a Rede de Bibliotecas Comunitárias do Recife (Releituras) que tem apoio financeiro e assessoria pedagógica do Instituto C&A (Programa Prazer em Ler)
A biblioteca funciona nos três turnos e atende diariamente aproximadamente 50 crianças. Além de Reginaldo, mais oito jovens atuam na biblioteca desempenhando as tarefas de mediação de leitura, auxiliar administrativo e atualização do blog. São Ana Paula, Jadilson, Janaina, Jully, Leninha, Mayara, Rayane, e Rodolfo.
Uma das ações importantes realizadas pela biblioteca é o atendimento às crianças da Escola Municipal Santa Edwiges, que fica na circunvizinhança, através do Programa Mais Educação (MEC). Existe um convênio formal entre MEC/Escola e a biblioteca, firmado através de acordo que estabelece o atendimento a um número determinado de crianças que não desenvolveram adequadamente as competências básicas de leitura e escrita, conforme os sistemas de avaliação nacional, estadual e municipal.
As crianças são atendidas no contra turno escolar, para participar de leitura de textos literários, ouvir histórias e escrever, buscando superar as lacunas relativas ao processo de alfabetização, muito comuns em ambientes cujas famílias ainda não se apropriaram da cultura letrada.
Somando os recursos oriundos desse convênio, com os do projeto do Instituto C&A, com algumas bolsas disponibilizadas pelo Programa Manuel Bandeira de Formação de Leitores, os jovens transformam o total numa espécie de bolsa auxilio BCCT e fazem uma redistribuição per capita que chega a aproximadamente a 50% do salário mínimo. Isso não é regular e em alguns meses, especialmente em janeiro e julho, por causa das férias, eles não contam com os recursos do Programa Mais Educação, o que provoca uma míngua na bolsa, que prejudica e às vezes impossibilita esse compartilhamento.
Curiosamente nesses dois meses, os jovens realizam uma atividade programática da maior importância – a Semana do Conto de Histórias – que na verdade é uma quinzena e tem como objetivo oferecer um programa intenso de leitura e linguagens, a aproximadamente 150 crianças diariamente (nos três turnos) como uma alternativa de ocupação sadia nas férias. Além do envolvimento direto dos 09 jovens, eles mobilizam o dobro disso de voluntários da comunidade que se envolvem com a atividade, além de contar com a participação também voluntária de poetas, contadores de histórias, escritores, músicos , cordelistas, entre outros.
A precariedade do espaço onde atualmente funciona a BCCT fez com que esses jovens da BCCT, com apoio de Nice, do Clube de Idosos, partissem para a construção de uma nova sede que deverá abrigar as duas instituições. Ou seja, a coordenação do Clube de Idosos propôs derrubar um barraco onde funcionava a sua sede (o que já foi realizado) e dar início à construção de um novo espaço, mais amplo e com melhor estrutura. No que se refere à assessoria técnica da construção, estão contando com a ajuda de engenheiros e arquitetos ligados à UPE.
A nova construção terá um piso térreo, a ser destinado ao Clube dos Idosos; e o primeiro piso, onde funcionará a BCCT. Isso porque a casa onde atualmente funciona a biblioteca se tornou muito pequena para abrigar mais de cinco mil livros que hoje constitui o acervo da biblioteca. Não existe mais espaço para estantes e para a recepção de novos livros. Além disso, a casa não oferece condições adequadas de atendimento aos usuários, que no momento, são majoritariamente crianças e adolescentes. E o aluguel representa um custo adicional, para quem sobrevive com recursos tão minguados.
Todos estão convidados a participarem do mutirão de construção da nova sede da BCCT / Grupo dos Idosos, contribuindo com serviços, materiais de construção e doação financeira. Quem quiser entrar nessa ciranda pode fazer contato com a BCCT nos telefones 8785-9536 ou 3077-2535. Ou acessar o blog http:// bibliotecacomunitariact.blogspot.com/ construcabccteciuv.blogspot.com
Além disso pode participar do Fórum em Defesa do Livro, da leitura e das bibliotecas, para ampliar o debate sobre o papel fundamental das bibliotecas numa política publica de leitura. O fórum conta com a representação de várias instâncias governamentais e da sociedade civil, mas é muito bem vinda a participação dos gestores, conselheiros de educação e cultura e dos representantes da Câmara Municipal e à Assembléia Legislativa.
Um dos entraves enfrentados no momento neste fórum é saber como avançar na execução de um projeto de lei que já foi votado e sancionado há praticamente dois anos e não se sabe o que está impedindo a operacionalidade. A lei contempla ações em parceria entre estado e sociedade civil enfatizando o aprendizado de uma gestão compartilhada e democrática, na perspectiva das redes.
Diante de um trabalho tão importante, conduzido por jovens que sobrevivem no limite da linha de pobreza e abrem, com esforços próprios, caminhos para a inserção no mundo da leitura, escrita e informação, perguntamos por que é tão difícil para os gestores estabelecerem políticas que:
• Valorizem as bibliotecas como ambientes de acesso à informação e disseminação da cultura letrada?
• Apóiem as bibliotecas comunitárias, criando um fundo voltado para a renovação permanente de acervo e melhoria das instalações, envolvendo o desenvolvimento de concepção de ambientes adequados?
• Criem uma modalidade de bolsa, para jovens agentes de leitura das comunidades?
• Fortaleçam a Universidade apoiando cursos de formação de mediadores de leitura e orientações técnicas à catalogação e informatização de acervos e incentivo ao sistema de empréstimos e circulação dos livros entre as famílias?
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