11 novembro 2011

A palavra certeira de Jomard Muniz de Britto

AUGUSTO por ele mesmo DE CAMPOS
Jomard Muniz de Britto

A nossa utopia tem raízes
no CONSTRUTIVISMO russo e na Bauhaus.
Um RACIONALISMO SENSÍVEL que visava à
clareza de idéias, tanto estéticas quanto sociais.
Em suma, a nossa posição, como poetas e
pintores, não era de remar a favor do vento,
mas, ao contrário, CONTRA A MARÉ,
beneficiados pela distensão democrática
do pós-guerra e pelo novo surto industrial
que repercutia na difusão da cultura.
PODE UM POETA VIVER DE SUA POESIA?
Ingressei na carreira de Procurador do Estado
por concurso público, em 1962.
Num quadro de injusta distribuição social,
como o nosso, em que o lucro e o mercado
são os motores da vida, os POETAS são
os SEM-TERRA culturais.
Foi a relação estrutural e sintática
entre as palavras que os concretos
buscaram modificar, adotando uma nova
sintaxe gráfico-espacial e antecipando
as fulminantes articulações que as novas
tecnologias iriam propiciar, algumas
décadas depois, entre o VERBAL e o
NÃO-VERBAL, o espacial e o temporal.
Há sempre gente interessante fazendo
poesia interessante, à margem da
maioria de gente desinteressante que
faz poesia desinteressante.
Não acredito - é óbvio - que toda poesia
deva virar concreta ou experimental
para ser válida. Mas o ECLETISMO
predominante nas novas gerações
NÃO ME ENTUSIASMA.
Parece-me uma solução FÁCIL DEMAIS,
e a POESIA É UMA ARTE DIFÍCIL.
Persigo a poesia sob o signo dessa
ESTÉTICA de RECUSAS, que me leva
a uma produção relativamente pequena.
Tento compensar-me dialogando com os
poetas que admiro através das traduções
e "intraduções", que ocupam 2/3 da
minha atividade poética.
Não me cabe dizer qual foi o LEGADO
da POESIA CONCRETA.
As novas gerações que nos sucederam
é que devem dizê-lo.
PULSAR. POESIA É RISCO.
Transcriações. SEM SAÍDA.
- Fragmentos retirados da Revista
POESIA SEMPRE. Ano 12. Nº 19.
Dezembro 2004.
Pela transcrição e maiúsculas,
Jomard Muniz de Britto, in Balada Literária,
SP/ 2011

Nenhum comentário:

Postar um comentário