Transporte público, um nó a ser desatado
Luciano Siqueira
Publicado no Blog da Revista Algomais
Mobilidade urbana é um conceito abrangente, que inclui até o estado das caçadas por onde transita parte considerável da população que se desloca a pé. E tem como nó górdio o transporte sobre rodas da imensa maioria dos habitantes das grandes e médias cidades do país.
Quem não se aflige com o transporte que atire a primeira pedra. Os que trafegam de ônibus, metrô, taxi; e os que conduzem seus automóveis, motos, bicicletas. O caos é a marca do roteiro diário de cada um e de todos. Sobretudo porque historicamente se tem privilegiado o transporte individual ao coletivo, um equívoco que vem desde a implantação da indústria automotiva, no final dos anos cinquenta e início dos anos sessenta. Trem, navio, barco viraram démodé; ônibus e principalmente carro ocuparam o trono.
Isso no ambiente urbano conturbado pela ocupação anárquica do território, pela carência de serviços de qualidade, pela morfologia irregular e irracional marcada por ruas estreitas e cruzamentos inadequados.
Recentemente, quando eclodiu a crise global – hoje em sua segunda fase aguda -, o então presidente Lula reduziu tributos e estimulou o crédito e facilitou a compra de veículos individuais, carros e motos, como forma de manter esse setor industrial nodal em pé e evitar um tsunami sobre os postos de trabalho. Mais carro e mais moto em nossas ruas. Efeito colateral de uma medida heroica, tal como se faz com o emprego de cortisona em certas situações clínicas, mesmo sabendo que alguns órgãos do paciente serão afetados. É o jeito de prolongar a vida e é pegar ou largar.
Abrem grandes avenidas, criam-se corredores de transporte, constroem-se viadutos – tudo para amenizar o problema, sem que se resolva a sua raiz: a inversão da equação transporte coletivo/transporte individual. Como o transporte coletivo – público ou privado subsidiado – é em geral de má qualidade, você, eu e os nossos vizinhos optaremos sempre, se pudermos, por sair de casa para o trabalho dirigindo o próprio veículo.
Sondagem recém-realizada pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), revelou que 41% da população brasileira acha que o serviço de transporte público é ruim no país e 30% que o serviço é bom, dados relativos a municípios com mais de 100 mil habitantes. Nos municípios menores, com menos de 20 mil habitantes, o julgamento da população é mais brando: 39% avalia que o serviço de transporte coletivo é bom, e 27% considera ruim.
Apenas a comprovação do óbvio. O que sugere a partidos, parlamentares, lideranças populares e personalidades influentes envolvidas com o assunto a possibilidade de levantarem a bandeira da implantação da nova política nacional de mobilidade urbana, sancionada pela presidenta Dilma dia 4 último e que deve vigorar dentro de pouco mais de 90 dias – tão necessária quanto estratégica, pois que inserida no bojo de imprescindível e inadiável reforma urbana.
É uma discussão muito importante, a Copa do Mundo já está chegando e nada foi feito, o tempo é muito curto!
ResponderExcluirGostaria de um posicionamento do senhor em relação ao protesto dos estudantes!