Mão de obra daqui e de fora
Luciano Siqueira
Publicado no Blog da Revista Algomais
Na minha infância, ouvi muitas vezes meu pai – quando em dificuldades financeiras – enaltecer São Paulo e Rio de Janeiro como mecas do emprego e da prosperidade. “O sujeito chega ao Rio hoje, amanhã já está trabalhando. Em São Paulo, então, nem se fala!”
De fato, durante décadas ocorreu o ciclo migratório do Nordeste para o Sudeste. No Ceará se dizia que “nordestino costuma subir para São Pedro ou descer para São Paulo”.
Hoje se dá o contrário. A região crescendo a taxas mais elevadas do que o Centro-Sul do País atrai mão de obra de lá para cá e milhares de antigos migrantes ou seus descendentes retornam às suas origens. O mesmo com outros países em relação ao Brasil. Inclusive da Europa.
Escutei na rádio estatal francesa, semana passada, entrevista com um professor de língua portuguesa para estrangeiros na Universidade de Toulouse que é crescente o interesse de europeus de várias nacionalidades em aprender o português falado no Brasil. Perguntado sobre a razão disso, respondeu o óbvio: “novas oportunidades de negócios e de trabalho em contraste com a Europa em crise”.
Mais ainda de países vizinhos cá do nosso subcontinente. Tanto que, segundo o Ministério da Justiça, o número de trabalhadores estrangeiros que ingressam em nosso País amentou 57% no ano passado, atingindo 1,51 milhão em dezembro. É gente que vem do Peru, da Bolívia, do Paraguai, do Chile e também japoneses e europeus. Com uma novidade: alteração importante no perfil desses imigrantes. Enquanto sul-americanos se ocupam de afazeres menos qualificados, da Europa nos chegam arquitetos, engenheiros, advogados.
O governo se esforça nessa direção. Reportagem da Folha de S. Paulo, dias atrás, dá conta de grupo de trabalho constituído pela Secretaria de Ações Estratégicas da Presidência da República destinado a atrair mão de obra qualificada, facilitando vistos de permanência, inclusive.
Isto porque há uma defasagem evidente entre o ritmo atual de crescimento do País e a capacidade acumulada de suprir novas demandas com recursos humanos qualificados. Falta sobretudo profissionais das áreas técnicas, de nível superior e médio.
Entretanto, se esse movimento se faz necessário, mais ainda se impõe o esforço de multiplicar instituições e cursos encarregados de formar e capacitar nossa gente. O que ocorre no Complexo Portuário e Industrial de Suape é emblemático: em funções de maior exigência técnica, estão principalmente trabalhadores de fora, brasileiros e estrangeiros; enquanto os nativos, por falta de preparo e experiência, ocupam postos de menor qualificação. Uma equação que, em médio prazo, há que pelo menos se atenuar.
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