Luciano Siqueira
Publicado no Portal Vermelho e no Blog de Jamildo (JC Online)
Na liturgia católica, oito dias atrás, quarta-feira de cinzas, foi dia de comparecer à igreja para pedir perdão dos excessos cometidos nos dias de folia e renovar a fé.
Noutra liturgia, a da maioria dos foliões pernambucanos, seja qual for a crença religiosa que professem, até o domingo, valeu o culto a Momo, acompanhando troças e agremiações tardias que ocupam ruas do Recife e de Olinda. Penitência, para os que julgam que a devem, só da segunda-feira em diante – quando os que viveram amores passageiros e alegrias efêmeras, ao se verem de volta à realidade cotidiana, entoarão os versos do velho samba: “Agora é cinzas/tudo acabado/e nada mais”.
Na política, diferentemente, nada está acabado; ao contrário, agora é que o jogo começa pra valer. A pouco mais de noventa dias das convenções partidárias, que acontecerão em junho, as conversações que antes estavam mais para amizade do que para namoro, tendem a se intensificar até desembocarem em casamento. Interesses díspares e contraditórios, legítimos todos, emergirão com força e nitidez, exigindo dos bons estrategistas e negociadores paciência, cautela, capacidade de ouvir e, ao mesmo tempo, clareza de objetivos e discernimento tático.
Pelo menos é assim que as coisas devem acontecer no terreno das correntes políticas que, comprometidas com os interesses do povo e da nação, se consideram obrigadas a firmarem alianças apoiadas em motivações substantivas, para além de meros arranjos eleitorais.
Cá na província, mormente na capital, tratativas começarão a tomar corpo - e todos os partidos envolvidos darão uma bela contribuição, se forem capazes, à elevação do padrão do fazer político. Pelo menos no âmbito da Frente Popular. Desde que prevaleça elevado espírito democrático e bom senso no trato da agenda que se coloca na ordem do dia: estratégia política e eleitoral; plataforma em favor do desenvolvimento sustentável com inclusão social, em sintonia com a luta pela continuidade das conquistas capitaneadas pelo governo Dilma; conduta tática no primeiro turno em relação aos concorrentes do mesmo campo e face a coligação adversária; estilo e método de campanha; uso dos tempos de TV e rádio; composição da chapa majoritária; coligação proporcional e comando político da campanha.
Há tempo de sobra para cuidar disso tudo com esmero e competência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário