Aurélio Molina
Em meio à Conferência da ONU sobre o Meio Ambiente, conhecida como Rio+20, muitas reflexões se fazem oportunas. Uma delas, ainda incipiente, é sobre as ditas “forças destruidoras” da natureza e de nosso planeta e que expõe a nossa vulnerabilidade.
Além dos três adjetivos do título, outros mais caberiam para descrever Gaia: dinâmica,
mutante, volátil, sensível, imprevisível, turbulenta e impiedosa. Nenhum é errôneo ou inadequado e são motivadores para aqueles que se preocupam com o fenômeno vida planetária, particularmente com a vida humana.
Stephens Hawking tem defendido que “se queremos preservar a humanidade temos
que investir na possibilidade de colonizar outros mundos”, empreitada nem um pouco trivial no atual desenvolvimento científico-tecnológico. Se por um lado quanto maior é o nosso entendimento sobre o nosso planeta, sistema solar, galáxia e universo, mais reverenciamos a beleza, a riqueza, a complexidade e a unidade entre o singular e o todo, por outro este mesmo conhecimento (que aumenta numa escala exponencial) nos traz inquietações, robustecendo-nos como espécie pensante e importante parte, consciente, responsável e protagonista do Holus.
Se aceitarmos que o humanismo contemporâneo é (como propugno) aquele onde o ser humano deixa de ser o centro das atenções e passa a ser o sujeito ciente de sua corresponsabilidade por tudo e por todos, deveríamos (neste século 21) ter uma prática consistente com o diagnóstico de que a fragilidade do planeta e de seu ecossistema não está baseada apenas nas danosas repercussões causadas pela atividade humana, mas também pode ser evidenciada nos riscos de explosões solares, tsunamis, furacões e atividades vulcânicas, colisões de placas tectônicas, quedas de asteroides (estima-se que 4.700 sejam potencialmente perigosos) e intensas mudanças climáticas.
Vale lembrar que esses fenômenos ocorrem com muito mais frequência do que imaginávamos e que não só parecem ter afetado outros planetas e sistemas como
já vitimaram a própria Terra em várias ocasiões, levando ao extermínio da imensa maioria das formas de vida que nela habitavam outrora (aliás, foi um deles, há cerca de 65 milhões de anos, que facilitou nossa atual hegemonia animal).
A tarefa não é corriqueira e talvez não seja prioritária para o aqui e agora de tantos
outros desafios do nosso cotidiano. Entretanto, se aceitarmos que os seres humanos possuem um papel relevante nesse admirável script conhecido como vida, ao lado de fundamentais intervenções que assegurem o equilíbrio e a sustentabilidade do ecossistema planetário, devemos começar a nos preocupar com o futuro e sobrevivência da espécie humana, que deve ser acompanhada de medidas concretas, como planos de evacuações para megatsunamis, construções resistentes a sismos e melhorias tecnológicas específicas.
Este tipo de preocupação já vem produzindo resultados, como o grande banco de sementes de Svalbard, os projetos Linear, Wiseeo Neowise (que já identificaram 170 asteroides de risco) e o ensino do plantio de alimentos, como está ocorrendo nas escolas públicas do Reino Unido.
No mínimo (essa reflexão sobre nossa vulnerabilidade) nos deixará menos arrogantes
e mais humanos, auxiliando a todos neste planeta a se relacionar mais como gente, e menos como coisa, construindo um mundo novo e uma humanidade nova, ajudando-nos também a degustar (com muito menos vaidade, egoísmo, assédios morais e com mais justiça e fraternidade) o prazer diário de estar presente naquilo que um dia Einstein denominou de milagre: “Existem duas maneiras de viver a vida. Uma é não acreditar em milagres. A outra é acreditar que tudo é um milagre”.
Auréllo Molina é Ph.D pela University of Leeds
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