Carol Bradley
Do site Um conto por dia http://migre.me/alCNW
Casou aos dezoito anos com o primeiro namorado. Horácio era filho do Coronel Dutra, maior fazendeiro da região. Teve cinco filhos, todos homens. Nunca trabalhou fora, o marido não deixava. Mulher de respeito cuida da casa e das crianças, repetia sempre. Participava das atividades da Igreja. Novena, quermesse, bazar. Era beata de padre Geraldo. Mas, queria mesmo ter sido bailarina. Aos sete anos viajou com os pais para o Rio de Janeiro. Assistiu O Lago dos Cisnes. Um sonho que parecia realidade.
No aniversário pediu uma sapatilha de presente, ganhou uma boneca. É para você ir treinando, dizia o pai. Eu quero aprender balé. A mãe arrumou uma professora de corte e costura. No dia do casamento, o pai passou o cabresto para o genro. Só mudou o endereço da cela. Gostava de ler sobre a vida dos artistas. Seria colega deles, se fosse bailarina. Aos sessenta e dois anos ficou viúva. O coração do marido cansou de bater. Abriram a gaiola e ela não sabia para onde voar. Decidiu ficar com o filho em São Paulo. Decidiu também fazer uma tatuagem, como a sobrinha, Daniela. A menina tinha uma flor nas costas e um sol no braço. Dani conhecia o tatuador, pediu para levá-la até lá.
- A senhora? Tem certeza, tia?
- Claro, tenho sim.
Chegaram na sala de Carlão, às três da tarde.
- Venha, Dani, pode entrar.
- Dessa vez não sou eu Carlão, é minha tia…
Ele mostrou vários desenhos. Ela gostou de umas letras orientais. Eu quero essa daqui. Esticou a pele da barriga.
- Você sabe o que significa? Perguntou, Carlão.
- Para mim, liberdade.
Obs. Inspirado em Eddie
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