Luciano Siqueira
A partir dessa constatação, confirmada em pesquisas de mais
de um instituto especializado, a busca de explicação razoável para o fenômeno. Seria
o apoio do desgastado prefeito Kassab? Ou a renúncia ao cargo de prefeito
anteriormente ocupado pelo tucano, contrariando compromisso registrado em
cartório? Repúdio visceral ao aborto, supervalorização de alianças evangélicas,
escandalização de um kit contra o preconceito?
Compreende-se que a Folha, por dever jornalístico e também
por evidente frustração (pois se perfila solenemente ao lado do tucanato)
busque entender o que se passa. Também é razoável admitir a perplexidade que
nada explica.
Falta, talvez, ao analista a sensibilidade para compreender
que o comportamento do eleitor é influenciado por uma gama de fatores, alguns
emergentes no curso da própria peleja eleitoral, outros acumulados no complexo
e tortuoso processo de formação da consciência social. Daí o peso da mídia é
importante, sim, porém revela-se progressivamente amainado. Ou não frustra também
a Folha e seus congêneres ter feito da cobertura do julgamento do chamado “mensalão”
cavalo de batalha para derrotar o PT nessas eleições, das quais o partido de
Lula sai mais uma vez vitorioso?
O fato real e promissor é que a realidade concreta pesa mais
do que o bombardeio midiático. As repercussões das políticas adotadas por Lula
e sequenciadas por Dilma sobre a vida do cidadão comum certamente contribui
marcadamente para esse comportamento, digamos, “rebelde” do eleitorado. Em outras
palavras, os critérios de julgamento do eleitor escapariam ao controle do
esquema dantesco formado pela tríade pressão midiática-pesquisa-nova pressão
midiática, que pretensamente seria decisivo para produzir a vitória de
candidatos como Serra, ultrapassados no tempo e cada vez mais distantes das
aspirações da população.
Por essa e outras cabe uma análise abrangente do mapa
eleitoral do País a se completar com a realização do segundo turno em grande
número de cidades grandes e médias, a partir da capital paulista. Há que se
verificar a correlação de forças decorrente das urnas e, na medida em que se
possa alcançar, os fatores determinantes das opções majoritárias do eleitorado.
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