20 outubro 2012

Emblemática rejeição a Serra

A subjetividade soberana do eleitorado
Luciano Siqueira

 
A matéria da Folha de S. Paulo tem um quê de perplexidade: “Parece claro que a altíssima e inédita rejeição a Serra tem sido um dos elementos centrais da eleição paulistana. Era de 33% em janeiro, foi a 46% em setembro, está em 52% agora. A impressão é que quanto maior a exposição do tucano, maior sua rejeição.”

A partir dessa constatação, confirmada em pesquisas de mais de um instituto especializado, a busca de explicação razoável para o fenômeno. Seria o apoio do desgastado prefeito Kassab? Ou a renúncia ao cargo de prefeito anteriormente ocupado pelo tucano, contrariando compromisso registrado em cartório? Repúdio visceral ao aborto, supervalorização de alianças evangélicas, escandalização de um kit contra o preconceito?

Compreende-se que a Folha, por dever jornalístico e também por evidente frustração (pois se perfila solenemente ao lado do tucanato) busque entender o que se passa. Também é razoável admitir a perplexidade que nada explica.

Falta, talvez, ao analista a sensibilidade para compreender que o comportamento do eleitor é influenciado por uma gama de fatores, alguns emergentes no curso da própria peleja eleitoral, outros acumulados no complexo e tortuoso processo de formação da consciência social. Daí o peso da mídia é importante, sim, porém revela-se progressivamente amainado. Ou não frustra também a Folha e seus congêneres ter feito da cobertura do julgamento do chamado “mensalão” cavalo de batalha para derrotar o PT nessas eleições, das quais o partido de Lula sai mais uma vez vitorioso?

O fato real e promissor é que a realidade concreta pesa mais do que o bombardeio midiático. As repercussões das políticas adotadas por Lula e sequenciadas por Dilma sobre a vida do cidadão comum certamente contribui marcadamente para esse comportamento, digamos, “rebelde” do eleitorado. Em outras palavras, os critérios de julgamento do eleitor escapariam ao controle do esquema dantesco formado pela tríade pressão midiática-pesquisa-nova pressão midiática, que pretensamente seria decisivo para produzir a vitória de candidatos como Serra, ultrapassados no tempo e cada vez mais distantes das aspirações da população.

Por essa e outras cabe uma análise abrangente do mapa eleitoral do País a se completar com a realização do segundo turno em grande número de cidades grandes e médias, a partir da capital paulista. Há que se verificar a correlação de forças decorrente das urnas e, na medida em que se possa alcançar, os fatores determinantes das opções majoritárias do eleitorado.

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