24 outubro 2012

Remédios de efeitos limitados

Estímulo ao consumo num mar de dívidas
Luciano Siqueira
 

É fato inquestionável que a manutenção do nível da atividade econômica verificado nos anos recentes no País tem tudo a ver com a expansão do consumo. Seja porque parcela expressiva da população – no Nordeste, cerca de vinte milhões – ingressou na chamada classe média; seja porque o governo promoveu formidável estímulo via ampliação do crédito e desoneração fiscal para produtos industrializados, entre outras medidas.

Tudo bem. Remédio eficaz até certo ponto. Pois embora a retomada do crescimento econômico venha se dando, desde o governo Lula, em ritmo satisfatório, mesmo com as retenções decorrentes da crise global, há sinais de que as medidas anticrise adotadas por Lula e repetidas por Dilma parece já não farem o mesmo efeito. A fonte está se esgotando.

Agora mesmo, bancos e comerciantes estão empenhados em renegociar dívidas e habilitar os brasileiros para consumir mais, de olho nas vendas de fim de ano. Verdadeira operação de guerra, em que se promove a renegociação de dívida, esticando prazos. Informa-se que empresas especializadas usam vans e contêineres para realizar a tarefa País afora. Só em São Paulo, 3,9 milhões de consumidores acertaram suas contas.

O governo entra na jogada intermediando a troca de dívida cara de um banco por outra mais barata de um concorrente, além de ter diminuído a taxa de juros ao menor nível da história.

Iniciativas louváveis, mas com o risco de alargar o endividamento de uma parcela expressiva de consumidores. Tanto que a inadimplência ainda alcança patamares elevadíssimos. Por isso as estimativas de venda no período natalino que se avizinha indicam crescimento limitado entre 2% e 5% em comparação ao ano passado.

Moral da história: falta um fator sem o qual não se consegue a deseja sustentabilidade do crescimento e da expansão do mercado: o crescimento seguro da produção. Aí há que se assinalar os esforços feitos pelo governo, inclusive a recente decisão da presidenta Dilma em reduzir tarifas de energia elétrica e a persistência em obras de infraestrutura de certa envergadura; e, em contraponto, as pressões negativas advinda da situação econômica mundial. A retração relativa da economia chinesa, por exemplo, repercute sobre a pauta de exportações do Brasil.

Donde se conclui que ao mesmo tempo em que se adotam medidas de alcance conjuntural, cumpre ir adiante em relação a reformas estruturais sem as quais continuaremos alternando períodos de expansão com oscilações e retração. Para que a relação PIB/investimento público – que era de 18,8% no 2º trimestre de 2011, caiu para 17,9% - se eleve a um padrão pelo menos razoável.

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