31 outubro 2012

Tortuosa formação da consciência social

Abstenção não tão grande quanto poderia ser
Luciano Siqueira

Publicado no Blog da Folha
 
Abstenção no segundo turno do recém-concluído pleito municipal: 19,11%; no primeiro turno, 16,41%. A presidenta da TSE, ministra Carmem Lúcia, manifestou-se preocupada – o que tem sido reverberado à exaustão pelas diversas mídias.

Examinemos a questão com calma. Devagar com o andor que as coisas não são bem assim. É verdade que o voto é obrigatório, mas igualmente é verdade que abstenção nessa faixa sempre houve, em muitas eleições em percentual maior ainda. E os motivos que levam o cidadão a não comparecer ao local de votação são variados, incluindo o simples desleixo ou desinteresse.

O que poderia ter acontecido neste pleito, e não aconteceu, seria um elevado índice de não comparecimento às urnas como protesto. Isto se a tremenda campanha de mídia contra políticos, partidos e a atividade política em geral tivesse calado fundo no espírito de parcela expressiva do eleitorado. O bombardeio é imenso, constante, diário. Faz-se de cada fato negativo na esfera da gestão pública ou do Parlamento mote para uma parafernália midiática destinada a afastar o cidadão da vida política. Desestimulá-lo. Desacreditar nas instituições.

Nessas circunstâncias, os índices de abstenção acima anotados são, ao contrário do que diz a presidenta do TSE e analistas de variados matizes, animadores. Significa que a imensa maioria dos brasileiros aptos a votar digitou seu voto na urna eletrônica.

Significa também que a crença de que a realidade pode mudar para melhor através da política se consolida na sociedade brasileira. Ou não é essa a percepção de mais de vinte milhões de nordestinos que ascenderam à chamada classe média a partir das transformações encetadas nos dois governos do ex-presidente Lula? O mesmo ocorre com os pernambucanos que assistem o alavancar de sua economia e a consequente expansão das oportunidades de trabalho desde que Lula decidiu alocar no Complexo Portuário de Suape a Refinaria de Petróleo e outros importantes empreendimentos industriais.

A campanha deste ano foi marcada pelo espetáculo do julgamento do chamado mensalão, tudo levando a crê – assim pensava a oposição midiática – que o PT colheria resultados negativos no pleito. Deu-se o contrário. A vitória de Haddad em São Paulo é o maior emblema disso.

Portanto, não há razão para alarde em relação aos índices de abstenção registrados agora: modestos.

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