Luciano Siqueira
Publicado no portal Vermelho
www.vermelho.org.br
Dias atrás tive a satisfação e a honra de substituir o
prefeito Geraldo Julio na cerimônia que homenageia, anualmente, o frade Joaquim
do Amor Divino Rabelo, o Frei Caneca – seguramente um dos revolucionários mais
importantes na construção da nacionalidade.
Frei Caneca foi, a seu tempo, o que chamamos hoje um quadro
completo. Combinou como poucos a teoria e a prática; a busca criteriosa do
conhecimento científico com a militância ativa pela transformação social. Teve
participação importante na Revolução de 1817, em Pernambuco, que antecipou a
proclamação da República e constituiu um governo autônomo em relação à Coroa
portuguesa. Acusado de haver cumprido a missão de “capitão de guerrilha”, com a
derrota do movimento, foi preso e levado para a Bahia, onde permaneceu
encarcerado por quatro anos.
Em liberdade a partir de 1821, prosseguiu sua militância
rebelde, inserindo-se nos movimentos que eclodiram então, culminando com a
Confederação do Equador, em 1828, página gloriosa das lutas libertárias em território
nordestino, com epicentro em Pernambuco. Em razão de graves problemas
econômicos e sociais e de crescente aspiração autonomista, a Constituição de
1823, promulgada por Dom Pedro I, de caráter autoritário e ultra centralizador,
assanhou ânimos e provocou novo impulso revolucionário.
Em 2 de julho de 1824 os autonomistas proclamaram a
independência da Província de Pernambuco e desenharam um novo poder inspirado
na Constituição do Equador, de feição republicana. Pretendia formar um Estado
republicano que englobasse as províncias do Piauí, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Sergipe, Paraíba, além de
Pernambuco. Apenas algumas vilas da Paraiba e do Ceará aderiram.
Considerado ideólogo
do movimento, Caneca redige texto sobre o que deveria ser a República – peça de
conteúdo avançadíssimo, de caráter democrático e popular.
Viria a ser arcabuzado em 13 de janeiro de 1825, no Forte de
São Tiago das Cinco Pontas, no Recife.
Além da coragem cívica, da capacidade de aglutinar e
despertar seus compatriotas para a luta, Caneca foi um gigante do debate de
ideias. Além de estudioso, tendo se empenhado em redigir uma gramática e um compêndio
de matemática, quando preso na Bahia, fundou, editou e divulgou o Typhis
Pernambucano, impresso de 21 por 30 centímetros, que circulou de dezembro de
1823 a setembro de 1824. Como epígrafe, os versos de Os Lusíadas, de Camões, "Uma nuvem que os ares escurece/sobre nossas
cabeças aparece." Como grande parte da população era analfabeta, o
jornal era lido em voz alta, em praça pública.
Para Caneca, literalmente o movimento rebelde não teria consistência nem
poderia lograr êxito sem a base de um ideário disseminado no seio do povo e por
ele aceito como seu. Exemplo a ser seguido hoje, quando a supercialidade muitas
vezes alimenta um pragmatismo estéril.
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