Bruna d Amico
Febre terçãPor Marco Albertim,
publicado no portal Vermelho www.vermelho.org.br
Tratou-se com médico, mas não rejeitou o
mastruço com leite oferecido pela vizinha. Quinze dias, a febre terçã durara
quinze dias até que se levantou da rede. Ela gabou o mastruço arrancado atrás
da cerca do quintal, onde pendurava as roupas.
- Já curei até bexiga, ora...
Paredes dividiam as duas casas até o telhado. No inverno, as telhas eram rejuntadas para evitar goteiras; os furos vistos à luz do sol, cobertos a cada ano, não evitavam os salpicos. Sem forro, ouvia-se a conversa de um lado e de outro; com desinteresse nos ouvidos, porque a vida de cada um era uma só; na rua, nas ruas da Vila Mariúna.
Anete, nem velha nem moça, vivida, tinha cabelos estirados nas costas, rosto curtido, desinteresse pela exaustão do marido. Só saía à noite para sentar-se na frente de casa, ouvir a conversa mundana dos filhos, da nora maçante, do marido sem assunto. Coralino só vinha à noite, depois do trabalho. Espreitara, ela, costumes e horários para, na precisão, cobrar o aluguel. Ele recebia por quinzena, e tivera o cuidado de esconder dela para evitar cobrança. Quinze dias de licença, agora no recobro das forças graças a Anete. Não acreditava em unguentos, mas fiara-se nos rogos dela feito um afilhado carecido.
- Bebe, Coralino. Já curei até bexiga com mastruço.
Nos quintais sem muro, ela na cozinha dele não causaria assombro. O banheiro e a latrina nos fundos tinham uso comum. Ele se acostumara ao cheiro do café fervendo toda manhã. Cuscuz fumegando, o incenso se espalhando nas cumeeiras. Nunca fora chamado para sentar-se à mesa, provar a comida. O marido não mencionava o nome do vizinho; olhava-o por cima dos óculos. Só Anete, que recebia o dinheiro do aluguel. Os dois filhos, com ocupação incerta, tinham um olho no mundo e outro na rotina de Coralino, na sua roupa engomada. Anete fariscava as tenções dos filhos. “Fasta, menino! Tem o que fuçar não!?” Ela nutria-se na resignação do marido, na sujeição dos filhos, nos urdumes incertos do inquilino. Podia entrar no quarto dele, assuntando, fruindo sua quentura moça. Inda que demorasse, não havia relógio na parede. O marido, aposentado, aposentara os sentidos.
Queria espreitar os mistérios de Coralino, tão regrados quanto o fumo que ela punha no cachimbo. Não atrasava o aluguel, não se embebedava; moço sem mulher nem tenções de namoro.
- Já curei até bexiga, ora...
Paredes dividiam as duas casas até o telhado. No inverno, as telhas eram rejuntadas para evitar goteiras; os furos vistos à luz do sol, cobertos a cada ano, não evitavam os salpicos. Sem forro, ouvia-se a conversa de um lado e de outro; com desinteresse nos ouvidos, porque a vida de cada um era uma só; na rua, nas ruas da Vila Mariúna.
Anete, nem velha nem moça, vivida, tinha cabelos estirados nas costas, rosto curtido, desinteresse pela exaustão do marido. Só saía à noite para sentar-se na frente de casa, ouvir a conversa mundana dos filhos, da nora maçante, do marido sem assunto. Coralino só vinha à noite, depois do trabalho. Espreitara, ela, costumes e horários para, na precisão, cobrar o aluguel. Ele recebia por quinzena, e tivera o cuidado de esconder dela para evitar cobrança. Quinze dias de licença, agora no recobro das forças graças a Anete. Não acreditava em unguentos, mas fiara-se nos rogos dela feito um afilhado carecido.
- Bebe, Coralino. Já curei até bexiga com mastruço.
Nos quintais sem muro, ela na cozinha dele não causaria assombro. O banheiro e a latrina nos fundos tinham uso comum. Ele se acostumara ao cheiro do café fervendo toda manhã. Cuscuz fumegando, o incenso se espalhando nas cumeeiras. Nunca fora chamado para sentar-se à mesa, provar a comida. O marido não mencionava o nome do vizinho; olhava-o por cima dos óculos. Só Anete, que recebia o dinheiro do aluguel. Os dois filhos, com ocupação incerta, tinham um olho no mundo e outro na rotina de Coralino, na sua roupa engomada. Anete fariscava as tenções dos filhos. “Fasta, menino! Tem o que fuçar não!?” Ela nutria-se na resignação do marido, na sujeição dos filhos, nos urdumes incertos do inquilino. Podia entrar no quarto dele, assuntando, fruindo sua quentura moça. Inda que demorasse, não havia relógio na parede. O marido, aposentado, aposentara os sentidos.
Queria espreitar os mistérios de Coralino, tão regrados quanto o fumo que ela punha no cachimbo. Não atrasava o aluguel, não se embebedava; moço sem mulher nem tenções de namoro.
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