Luciano Siqueira
Publicado no Blog de Jamildo
(Jornal do Commercio Online)
Faça o teste. Vá ali ao boteco da esquina, onde se conversa
sobre futebol e amenidades várias, e tente puxar uma discussão sobre a redução
da taxa básica de juros como fator de superação dos condicionantes macroeconômicos
herdados da era FHC e de geração de um ambiente favorável aos investimentos
produtivos no País. Ninguém vai topar a parada e ainda haverá quem o acuse de
pedante ou de falar grego.
Outro teste. No mesmo ambiente, questione se Lula fez certo
ou errado ao antecipar que a presidenta Dilma deve se candidatar à reeleição e
se com essa atitude ele atrapalha a obra de governo. Um ou outro pode até
arriscar um palpite, logo retornando, entretanto, aos lances do último Sport x
Náutico ou as crises do Flamengo e Vaco da Gama no Rio de Janeiro ou às
deliciosas anedotas do gordinho sempre pronto a contar mais uma.
Agora, assim como quem fala de algo trivial, procure saber
se a turma está otimista sobre o presente e o futuro do Brasil. Certamente você
recolherá opiniões animadas, partindo de gente que tem melhorado sua condição
de vida – aqueles segmentos que os critérios mercadológicos classificam como C,
D e E. Ou seja, o pessoal que, aos milhões, experimenta o ingresso no mundo do
trabalho e na esfera do consumo, nos governos Lula a Dilma.
Aí está a razão dos elevados índices de aprovação alcançados
por Dilma na pesquisa CNI/Ibope, divulgada recentemente. Isto apesar incessante
bombardeio que a presidenta tem enfrentado, partindo da grande mídia e dos partidos
de oposição, insatisfeitos com a quebra de braço que ela enfrenta com o sistema
financeiro, o saneamento da Petrobrás, do Banco do Nordeste e outras medidas
que, no conjunto, apontam para o destravamento do crescimento do País.
É que mesmo setores importantes da indústria desejam um
ambiente favorável aos investimentos, mas nem tanto. Atuam com um olho na reza
e o outro no padre. Também aferem lucros financeiros vultosos operando no setor
rentista.
Essa turma se queixa de suposta imprevisibilidade da presidenta,
que anuncia medidas drásticas sem acordo prévio (sic) e que o PIB de 2012
esteve bem abaixo do desejável e quejandos. Tudo faz para construir alternativas
eleitorais que possam borrar a luta sucessória e abrir espaço para tucanos e
aliados, carentes de rumo, porém eternos conspiradores do caos e da incerteza.
O fato é que 79% dos brasileiros apoiam a presidenta e 63%
consideram o governo bom ou ótimo. Isto quer dizer que a turma do boteco, a
dona de casa, o trabalhador do chão da fábrica, o assalariado que sai de casa
cedinho para pegar no serviço, o pequeno comerciante que vê seu negócio
prosperar e gente do tipo – a maioria dos brasileiros – continua mais sensível
ao bolso e ao que tem à mesa do que às falácias e a diatribes veiculadas diariamente.
E que as oposições, se pretendem disputar pra valer, terão que fazer uma
crítica consistente e fundamentada da orientação atual do governo, ao invés do
jogo de palavras em torno do factual e fragmentado – uma dificuldade,
convenhamos, difícil de superar.
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