Luciano Siqueira
Publicado no portal Vermelho
www.vermelho.org.br
Aberta a temporada de especulações sobre o pleito de 2014,
tudo é legítimo e nada estranho – afinal, democracia tem de tudo e todos são
livres para sonhar. Mas ninguém, por mais confiante e afoito que seja, pode
desdenhar da definição exata do espaço que pretende ocupar no espectro
político. É como um quebra-cabeça: cada peça tem que se encaixar onde cabe.
À direita, partidos patinam na busca de um projeto e de um
discurso minimamente coerente, saudosos do figurino neoliberal e em conflito
com as aspirações dominantes na sociedade.
No amplo campo de forças que dá sustentação ao governo (de
variados matizes), a hipótese de uma dissidência é real, porém se depara com um
nó difícil de desatar: por onde atacar o governo Dilma?
Ou seja, como justificar a dissidência? Cobrar de Dilma
passos mais avançados que os que tem dado no confronto aberto com o setor
rentista não parece viável, seja porque a correlação de forças real não autoriza,
seja porque prejudicaria a busca de apoios ao centro-direita. Por enquanto,
permanece a cruzeta em que se mete quem reclama do desempenho momentaneamente
insatisfatório da economia, porém não propõe mudança na essência da política
econômica vigente. Elevar o tom de voz por aí levaria à inconsequência, de
duvidosos resultados eleitorais.
Por outro lado, para ajuntar-se aos segmentos políticos e empresariais
assustados com o vigor do governo na busca de superação dos condicionantes
macroeconômicos herdados de FHC – mormente a queda da taxa básica de juros – em
favor de investimentos produtivos, será necessário abraçar o retrocesso. Isso
poderia dar sustança material a uma campanha de âmbito nacional, aplausos temporários
na grande mídia ansiosa por borrar o cenário eleitoral e abrir brecha para o revide
dos que perderam poder desde a assunção de Lula à presidência; mas seguramente
não empolgaria os milhões situados (segundo a classificação mercadológica) nas
faixas C, D e E do eleitorado. A maioria dos brasileiros prefere que as coisas
prossigam como hoje, em quem se ainda não demos os voos mais altos que
desejamos, pelo menos caminhamos em condições tecnicamente consideradas de
pleno emprego e de gradativa inserção de novos contingentes no mundo do
trabalho e no mercado.
Em outras palavras, salvo se o governo desandar e a economia
entrar em parafuso – o que não parece provável -, achar o discurso que justifique
uma oposição por dentro da coalizão governista não é fácil. E, assim, mais uma
vez se confirma o que ensinou Marx no 18 Brumário de Luis Bonaparte: o curso da
luta política frequentemente se dá à revelia da vontade subjetiva dos atores em
cena; a realidade objetiva impõe sua própria dinâmica – e, nesse caso, tende a
determinar o posicionamento do eleitorado.
Clique aqui para ler mais no blog http://migre.me/dNZpq
Clique aqui para ler mais no blog http://migre.me/dNZpq
Nenhum comentário:
Postar um comentário