Luciano Siqueira
Fernando Henrique Cardoso e Luis Inácio Lula da Silva trocam
estocadas de vez em quando. Em geral, quando uma questão relevante se põe na
pauta, como alternativas à política macroeconômica ou programas de promoção
social. Sempre que acontece, naturalmente a pendenga ocupa espaços na mídia.
Há que gaste tinta e papel censurando os dois ex-presidentes
por polemizarem de público. Sem razão, no entanto. Muito ao contrário, num país
onde a cena política é muito contaminada por questões menores, setoriais e de curto
prazo; ou pelo simples jogo eleitoral, bom que homens que governaram a República
exponham seus pontos de vista e, assim, ajudem a incrementar o debate de
ideias.
No caso de Lula e FHC o debate inevitavelmente põe em relevo
dois projetos políticos diametralmente opostos. Enquanto o tucano adotou o
figurino neoliberal e governou de olho no sistema financeiro e de costas para
as necessidades fundamentais da nação e do povo brasileiro, Lula iniciou a
transição para um novo modelo de desenvolvimento, calcado na exploração de
nossas próprias potencialidades, na inversão da equação financeirização versus
produção, na expansão do mercado interno, na inclusão social e numa postura
internacional soberana.
Diante da atual crise global, governasse ainda FHC o Brasil
reagiria reagido conforme os ditames de Wall Street e certamente teria
embarcado na política de proteção aos bancos, de desemprego e regressão de
direitos que caracteriza o comportamento dos governos dos EUA e da Zona do
Euro.
Lula fez o inverso – e por isso a crise nos afetou e
continua nos afetando, porém bastante amainada pelas medidas anticrise, que têm
nos permitido atravessar o período de turbulências e incertezas e de ameaças
externas conservando um nível de atividade econômica bastante satisfatório. O
crescimento do PIB de “apenas” 1.4% em 2012 – que a oposição chama de pífio
(sic) – é algo notável, comparando-se com o que ocorre nos países centrais.
Assim, faz-se evidente que os dois ex-presidentes expressam
projetos nacionais contraditórios, diametralmente opostos. Por que privá-los da
defesa de seus legados e da peleja no campo das ideias?
A formação de uma consciência social avançada, amadurecida,
capaz de discernir e separar projetos distintos de sociedade só terá êxito na
medida em que o debate político se eleve e se espraie pelos mais diversos
segmentos da população. Líderes como Lula e FHC podem contribuir para isso
dizendo o que fizeram e o que pensam, e não se omitindo.
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