A história por trás das grades
“Mesa
Vermelha” exibe relatos de 23 ex-presos que cumpriram penas na antiga Casa de
Detenção e no presídio Barreto CampeloDébora Duque, no Jornal do Commercio
Os anos em que
a antiga Casa de Detenção – hoje, Casa da Cultura – e a penitenciária Barreto
Campelo, em Itamaracá, abrigaram presos políticos do regime militar (1964-1985)
voltam à tona no documentário “Mesa Vermelha”, que será lançado nesta
segunda-feira (27), às 20h, no cinema São Luiz. A narrativa acompanha o relato
de 23 militantes de organizações de esquerda da época que cumpriram as penas
impostas pelo governo ditatorial nos dois presídios masculinos do estado.
Financiado pelo Ministério da Justiça, através do projeto “Marcas da Memória”,
o filme teve como idealizadoras duas ex-presas políticas pernambucanas, Lília
Gondim e Yara Falcón.
Esta mesma
dupla foi responsável por coordenar o projeto que resultou num documentário
semelhante – Vou contar para os meus filhos –, lançado em 2011, sobre as
mulheres que passaram pela Colônia Penal Feminina do Bom Pastor durante os
“anos de chumbo”. A direção do filme também é a mesma. Mas, desta vez, a
cineasta pernambucana Tuca Siqueira enfrentou o desafio de filmar o próprio
pai, o vice-prefeito do Recife, Luciano Siqueira (PCdoB), que ficou preso entre
1974 e 1976.
Além dele, o
documentário traz depoimentos de figuras como Marcelo Mário de Melo, Chico de
Assis, José Arlindo Soares, Alanir Cardoso, Cláudio Gurgel e Mário Miranda,
integrante da Comissão de Anistia. “O formato é diferenciado do filme sobre as
mulheres até porque o universo masculino é muito diferente do nosso”, conta a
diretora.
Os relatos dos
entrevistados abordam desde a chegada nos presídios aos momentos de convivência
coletiva. Um dos pontos abordados com ênfase é a transferência para a
penitenciária de Itamaracá quando a Casa de Detenção fechou as portas, em 73,
no governo de Eraldo Gueiros. Pelas condições ainda mais precárias e a atuação
mais forte da repressão, o presídio foi comparado a um campo de concentração.
“A primeira lembrança é de um campo de concentração nazista mesmo. Fomos
isolados dos presos comuns e éramos bem mais supervisionados. Banho de sol só
duas vezes por semana. Era uma zona de risco. Depois, fomos conquistando
condições melhores”, lembra Chico de Assis, que ficou detido por nove anos
(1970-1979).
Para pressionar
os militares a ceder pequenos direitos, um dos recursos utilizados era a greve
coletiva de fome, comum nos presídios brasileiros na época. Só em Itamaracá,
foram contabilizadas seis, como é contado no filme. A mais longa delas, em 76,
tinha por objetivo tirar do isolamento os dois companheiros condenados à prisão
perpétua pelo regimes. Um deles era Carlos Alberto Soares, que também participa
do documentário. De forma inusitada, o ex-militante do Partido Comunista
Revolucionário (PCBR) recebeu a condenação duas vezes pela Justiça Militar.
“Nessa aí foram 25 dias sem comer e eles não abriam não. Só depois é que o
clima foi abrandando. A gente usava a greve de fome como último recurso”, diz
Chico.
Com 80 minutos
de duração, o documentário terá amanhã exibição gratuita e aberta ao público.
Posteriormente, também será lançado um portal contendo os depoimentos completos
de cada um dos entrevistados.
Caro Luciano,
ResponderExcluirParabéns por Tuquinha sua câmera e sensibilidade. Com certeza suscitará perguntas transformadoras onde a palavra não atinge.
Aos protagonistas dessa história tão dura, adversa e desumana, engendrada por uma ditadura civil-militar sanguinária; o gozo da sobrevivência e a justiça que advirá com a punição dos criminosos.
Como antes afirmávamos "A luta é dura e prolongada"
Grande abraço
Waldir