Ruy Castro, na Folha de S. Paulo
Terça-feira,
30 de abril, foi o Dia Internacional do Jazz. Eu não sabia. Nem imaginava que
houvesse um. Achava que todos os dias eram dias internacionais do jazz.
Nenhuma música foi tão influente no
século 20. Desde 1917, quando começou a ser gravada em discos, ninguém segurou
sua difusão. Sem os discos, o jazz, como música não escrita, não teria como ser
aprendido (sim, porque ninguém nasce tocando jazz, nem os negros americanos) e
se espalhar. O poderio econômico dos EUA o levou, mesmo diluído, para toda
parte.
Sempre que o jazz se aproximou da
música de outros países, como Cuba ou Brasil, coisas boas aconteceram.
Pixinguinha tocou choros com sua jazz-band nos anos 1920; as big bands do swing
influenciaram nossas orquestras de gafieira; e grandes melodistas brasileiros
compuseram foxes. Anos depois, os jazzistas incorporaram a bossa nova à sua
gramática, como já tinham feito com outros gêneros - "St. Louis
Blues", por exemplo, é um tango; "My Favorite Things", uma
valsa.
Mas, o que é o jazz? Louis Armstrong,
Duke Ellington e Charlie Parker nunca souberam defini-lo. Seria o ritmo? A
improvisação? Um jeito de tocar? Tudo ao mesmo tempo? Cada época teve um estilo
- o jazz de New Orleans, o swing, o bebop, o afro-cubano, o free jazz, a
fusion. Seria uma música só negra? Não, porque os brancos sempre a praticaram -
Bix Beiderbecke, Benny Goodman, Bill Evans - e praticam. E, com Bessie Smith,
surgiu uma rica linhagem vocal da qual os grandes cantores, com muita ou
nenhuma voz, não abrem mão de se aproveitar.
Ah, sim, a afirmação de que o jazz foi
a música mais influente do século 20. E o rock? – perguntará você. Em sua origem, nos
anos 50, o rock foi só uma apropriação branca do rhythm and blues, que já era
um jazz meio fuleiro, feito para dançar. Deu no que deu.
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