25 julho 2013

Batalha de longo curso

A força do preconceito
Luciano Siqueira

Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)

 
Educação começa em casa, costuma-se dizer. E o preconceito também – a julgar pelo que revela estudo feito pelo Programa Rio sem Homofobia. Onde os homossexuais mais sofreram agressões, no estado do Rio de Janeiro, em 2012, foi precisamente no ambiente familiar: do total de denúncias registradas nos quatro centros de referência em operação, via ligações 0800, 22% foram praticados pelos próprios amigos e parentes, nas residências das vítimas, sendo 38% agressões verbais e 22% agressões físicas.
 
Depois da própria casa, é na rua (18%) em que atitudes preconceituosas mais se verificam.  Homossexuais têm seu direito de ir e vir constrangido.
                            
Lícito supor que o mesmo aconteça pelo Brasil afora, apenas com leves variações estatísticas.

Isto mostra o quanto é necessário avançar no processo civilizatório brasileiro, de que o grau de superação do preconceito homofóbico pode ser tomado como um dos indicadores.

Igualmente a questão se coloca em relação a outras modalidades de preconceito e de discriminação. De raça, gênero e condição socioeconômica e até em relação ao endereço.

Inúmeros e recorrentes são os registros de jovens que ocultam a localidade onde residem quando se candidatam a um emprego. Áreas das cidades reconhecidamente pobres e/ou palco de maior incidência da violência criminal conferem, ao senso comum, uma espécie de suspeita a priori, velada ou mesmo explícita.

O mapeamento da violência criminal de uma cidade como o Recife, por exemplo, elemento de referência para a formulação e o incremento de políticas públicas específicas, se constitui em dado de realidade a ser manejado sempre com cuidado. Para evitar o rebaixamento da autoestima da população ali localizada e, por extensão, vitimá-la pelo preconceito.

Assim, impõe-se o enfrentamento das desigualdades que objetivamente realimentam atitude inadequadas, preconceituosas – mediante políticas públicas inspiradas na sustentabilidade econômica ambiental e social – em estreita articulação com o embate de ideias. Uma reforça a outra, sendo que a extirpação do preconceito requer persistência e continuidade, numa visão de longo prazo.

Em toda sociedade, a conquista de padrão elevado de vida material não corresponde de imediato ao mesmo alcance civilizatório. A subjetividade é em grande medida determinada pela realidade objetiva, mas tem vida própria e implica em luta específica. Visão de mundo e adoção de valores mais avançados leva muito mais tempo.

Pesquisas como a realizada no Rio de Janeiro, portanto, além de revelarem o lado cruel da discriminação e do preconceito, fornecem dados preciosos para o debate, a formatação de políticas públicas e a luta em favor da solidariedade humana.

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