Luciano Siqueira
Publicado no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)
O
acaso na História, tema instigante e sempre atual. Desde Engels, em meados do
século 19 (pelo menos na literatura marxista) se discute isso. Fato fortuito,
que tinha tudo para passar despercebido ou sem maior repercussão, ganha a força
de, em determinada circunstância, funcionar como uma faísca que incendeia o
ambiente e muda o curso da luta.
Por exemplo, há quem
considere que Collor despertou a ira da Globo e demais redes de comunicação no
momento em que tentou adquirir o controle da então TV Manchete. Bastou que
surgissem denúncias de corrupção e a figura esquisita do PC Farias para que a
grande mídia passasse a incentivar o movimento das ruas que questionava a
usurpação dos limites constitucionais por parte do então presidente da
República e erguia a bandeira “Fora Collor!”. O final da ópera todos sabemos,
deu-se o impeachment do presidente alagoano.
Mesmo antes desse episódio,
em geral quando das grandes disputas eleitorais, frequentemente se busca um
“fato novo” que possa ser habilmente explorado, abalar convicções e resultar
numa inversão de tendências do eleitorado. No auge da campanha eleitoral
passada fez-se uma exploração midiática sem precedentes, em tempo no noticiário
e sofisticação dos apelos, do julgamento do chamado “mensalão”, na tentativa de
evitar a vitória da esquerda – mormente do PT – no pleito. Esforço inglório,
pois foi justamente o Partido dos Trabalhadores a agremiação que mais vitórias
obteve, com destaque para a eleição de Fernando Haddad na capital de São Paulo.
De um modo assemelhado, na
medida em que se aproxima a fase pré-eleitoral propriamente dita, nas hostes
oposicionistas e na grande mídia hegemônica cresce a impaciência porque não
parece fácil construir uma candidatura capaz de derrotar a coalizão que ora
governa o País.
Em artigo recente, Marcos
Coimbra se refere ao assunto assinalando o que chama de “aversão ao risco do eleitor comum”, que tende a rejeitar candidaturas
meteóricas, ao estilo de Collor em 1989, por tudo o que aconteceu até o
impeachment. Isto para dar uma dimensão relativa às muitas especulações acerca
do próximo pleito presidencial, emolduradas, em parte, pela expectativa do “fato
novo”.
Desde o pleito de 1989, quando a disputa se deu “solteira”, ou seja,
exclusivamente para a presidência da República, e não “casada”, como no ano vindouro,
em que além da presidência estarão em causa o Senado, a Câmara, as Assembleias
Legislativas e os governos estaduais, “o espaço para invencionismos diminuiu de
forma considerável. Na dúvida, a vasta maioria dos eleitores prefere não
arriscar”, analisa.
Donde se conclui – pelo menos em minha modesta compreensão – que ao
invés de artifícios e pretensas jogadas de marketing, a sorte dos diversos
postulantes estará depositada em propostas programáticas concretas, que estejam
em sintonia com as necessidades atuais do País e possam sensibilizar a maioria
do eleitorado.
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