01 agosto 2013

O valor da palavra

Irmã gêmea da inconsequência
Luciano Siqueira

Publicado no portal Vermelho www.vermelho.org.br

Em boca fechada não entra mosquito. Desde criança a gente ouve o adágio como expressão da sabedoria popular – e ao longo da vida, bem que cada um tem a chance de comprová-lo, nas boas ou más situações.

Na política, então, em qualquer tempo, são tantos os exemplos de bom ou mau uso da palavra quanto emblemáticos. Personagens firmaram imagem de boquirrotos, outros de diplomaticamente cautelosos.

Conta-se, inclusive, que Ulysses Guimarães recomendava aos correligionários não expressar em casa seus eventuais ódios a adversários, pois se adiante se convertessem em aliados (como é comum acontecer) os familiares não entenderiam a mudança de adjetivos dispensados aos ditos cujos.

Quem não se lembra de casos de impropérios os mais exagerados proferidos contra este ou aquele oponente, que tiveram que ser engolidos, ou esquecidos, muito rapidamente, quando interesses momentaneamente convergentes impuseram novas alianças e, por conseguinte, mudança radical da linguagem?

Em tom mais ou menos extravagante, mas igualmente deplorável, uns chamam outros de corruptos, prepotentes e diatribes mais. Não demora, são constrangidos a tratar os mesmos como insignes democratas (sic). Pior: às vezes a inconsequência e a metamorfose que a sucede ocorre entre integrantes da mesma agremiação partidária.

No outro extremo, o ex-governador Arraes – com quem o autor dessas linhas teve a honra de conviver por quase dezessete anos ininterruptos -, jamais errou pela inconveniência da palavra. Nunca se permitiu ataques pessoais a qualquer que fosse o adversário. Nem fez afirmações categóricas que o obrigassem, adiante, o recuo envergonhado. Manteve o debate invariavelmente no bom terreno das ideias. Palavra agressiva, a única que se registra é ter dito numa entrevista que o atual senador Jarbas Vasconcelos, ao migrar para a direita, no início dos anos 90, estava “seguindo o caminho da perdição”. Nada semelhante jamais se anotou.

Numa dimensão mais amena, porém perigosa, vê-se no noticiário atual todo tipo de opinião sobre os rumos do País, o governo Dilma e que tais, alguns empenhando a palavra em direção temerária, porque talvez insustentável daqui a meses. Por ora, precipitam-se no rito de passagem para a oposição; mas tarde, talvez tenham que mudar o discurso para justificar o retorno ao ponto de partida.

Tudo a ver com a inconsequência. 

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