Luciano Siqueira
Publicado no portal Vermelho www.vermelho.org.br
Em boca fechada não entra mosquito. Desde criança a gente ouve o adágio
como expressão da sabedoria popular – e ao longo da vida, bem que cada um tem a
chance de comprová-lo, nas boas ou más situações.
Na política, então, em qualquer tempo, são tantos os exemplos de bom ou
mau uso da palavra quanto emblemáticos. Personagens firmaram imagem de
boquirrotos, outros de diplomaticamente cautelosos.
Conta-se, inclusive, que Ulysses Guimarães recomendava aos correligionários
não expressar em casa seus eventuais ódios a adversários, pois se adiante se
convertessem em aliados (como é comum acontecer) os familiares não entenderiam
a mudança de adjetivos dispensados aos ditos cujos.
Quem não se lembra de casos de impropérios os mais exagerados proferidos contra este ou aquele oponente, que tiveram que ser engolidos, ou esquecidos, muito rapidamente, quando interesses momentaneamente convergentes impuseram novas alianças e, por conseguinte, mudança radical da linguagem?
Em tom mais ou menos extravagante, mas igualmente deplorável, uns chamam
outros de corruptos, prepotentes e diatribes mais. Não demora, são
constrangidos a tratar os mesmos como insignes democratas (sic). Pior: às vezes
a inconsequência e a metamorfose que a sucede ocorre entre integrantes da mesma
agremiação partidária.
No outro extremo, o ex-governador Arraes – com quem o autor dessas
linhas teve a honra de conviver por quase dezessete anos ininterruptos -,
jamais errou pela inconveniência da palavra. Nunca se permitiu ataques pessoais
a qualquer que fosse o adversário. Nem fez afirmações categóricas que o
obrigassem, adiante, o recuo envergonhado. Manteve o debate invariavelmente no
bom terreno das ideias. Palavra agressiva, a única que se registra é ter dito
numa entrevista que o atual senador Jarbas Vasconcelos, ao migrar para a
direita, no início dos anos 90, estava “seguindo o caminho da perdição”. Nada semelhante
jamais se anotou.
Numa dimensão mais amena, porém perigosa, vê-se no noticiário atual todo
tipo de opinião sobre os rumos do País, o governo Dilma e que tais, alguns empenhando
a palavra em direção temerária, porque talvez insustentável daqui a meses. Por
ora, precipitam-se no rito de passagem para a oposição; mas tarde, talvez
tenham que mudar o discurso para justificar o retorno ao ponto de partida.
Tudo a ver com a inconsequência.
Nenhum comentário:
Postar um comentário