Luciano Siqueira
Publicado no portal Vermelho e no Blog de Jamildo (Jornal do Commercio Online)
Em debate a evolução do Brasil na última década, sob
governos encabeçados pelo partido dos Trabalhadores – Lula e agora Dilma. Na
oposição e mesmo entre as correntes aliadas, via de regra se tem cometido três
equívocos.
O primeiro é dissociar a avaliação do atual governo, e do
que o antecedeu, da transição, deflagrada em 2003, da ordem neoliberal vigente
para um novo projeto de desenvolvimento do País. Transição que, pela dimensão
dos interesses contrariados e pela complexidade teórica, política e técnica que
implica, não se dá em linha reta. Tem caráter essencialmente contraditório,
conflitivo, sujeito a avanços e a retrocessos, cujo conteúdo e ritmo são
mediados pela correlação de forças real na sociedade e dentro do governo. Os que
perderam o comando da Nação em 2002 jamais deixaram de resistir a
transformações de maior envergadura; e dentre os que se ajuntam na base
governista, parcela expressiva aceita mudar, mas nem tanto. Por isso os governos
Lula e Dilma têm um quê de dualidade, em grande medida produto da dúbia composição
de sua base de apoio.
O segundo equívoco decorre diretamente do primeiro e incorre
numa abordagem algo mecanicista do processo de mudanças em curso. Faz-se como
que uma pesagem em dois pratos de uma balança, comparando os pesos acumulados
do que já mudou (em benefício do povo e da nação) e do que ainda se mantém
(anacrônico, a serviço das elites). Constatando-se profundos e fortes traços estruturais
de desigualdade na sociedade brasileira, conclui-se, apressadamente, que quase
nada mudou e, portanto, sequer vislumbra-se a possibilidade de um projeto de
desenvolvimento inovador e avançado.
O terceiro equívoco é fechar os olhos para as conquistas
reais acumuladas no período, tanto na melhoria das condições de existência do
povo quanto na prática democrática e na afirmação do Brasil como nação soberana
no concerto internacional. Em dez anos, nunca se promoveu tamanha oferta de
empregos, parcela expressiva com carteira assinada; se elevou o valor real do
salário mínimo e a massa salarial dos trabalhadores (de 78 para 320 dólares); e
se incorporou tanta gente ao mercado de consumo (mais de trinta milhões!). Basta
anotar que de Collor a FHC, 12 milhões de empregos foram extintos; de Lula a
Dilma, foram criados mais de 20 milhões de novos empregos formais.
A oposição necessita desconstruir os êxitos alcançados. Está
no papel dela – e na sua insuperável inconsistência.
No campo democrático e progressista, a impaciência e o
voluntarismo distorcem a percepção da realidade e impedem a compreensão dos
ingentes desafios postos na ordem do dia – mediante reformas estruturais que
destravem o desenvolvimento do País -, que precisam ser vencidos sob risco do
retrocesso. Com os pés no chão e a força do povo.
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