Carta Maior:
Noticiário internacional: uma extensão da guerra interna
A ONU confirmou o uso de gás sarin num ataque a um subúrbio
de Damasco no dia 21 de agosto.O documento não define os responsáveis pelo
ataque, embora o secretário-geral, Ban-Ki-moon, ensaie uma espécie de domínio
do fato contra o regime de Damasco. O recurso, como se vê, é multiuso. O
brasileiro Paulo Sergio Pinheiro, comissário da ONU que investiga crimes contra
os direitos humanos na Síria há mais de dois anos, tem uma opinião diferente.
Ele concedeu uma profilática entrevista à Folha nesta 2ª feira, retificando um
'consenso' para o qual se empenham colunistas do próprio jornal. "As
análises estratégicas por parte de vários países, os quais não vou nomear,
foram profundamente enganadas e enganosas (...) porque alguns interesses
externos apostam na destruição do Estado sírio", disse Pinheiro e disparou
no alvo: " Se houvesse um Datafolha na Síria hoje, mais de 50% estariam a
favor dele (Assad)". Quantas vezes você leu ou ouviu isso
antes, sobre um conflito que se arrasta há dois anos? A manipulação do
noticiário internacional é um socavão intocado do jornalismo conservador.
Escuro e embolorado, ele desautoriza ilusões no fim da guerra fria. O muro
caiu; mas as classes continuam de pé. E a mídia oligopolizada está onde sempre
esteve: editorias de internacional fazem da guerra externa uma extensão do
combate interno.
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