Kandinsky
Transição
ao Novo Projeto Nacional de Desenvolvimento e Partido – Atuais desde LêninNilson Vellazquez
Começo este texto
dizendo que, em 1989, ano da queda do Muro de Berlim, ainda tinha dois anos,
portanto, não trago lembranças dos episódios marcantes da história da luta dos
povos oprimidos, da classe trabalhadora, em prol de uma sociedade
socialista. Para açodar o que digo,
preciso deixar clara o quão devastadora foi a queda dos Regimes Socialistas, na
Rússia e Leste Europeu. Sendo assim, proponho-me a uma análise, tendo como
ponto de referência 3 artigos publicados por João Amazonas logo após esse
período: A Teoria Enriquece na Luta por
um Mundo Novo; Capitalismo de Estado na Transição ao Socialismo; e Força Decisiva da Revolução e da Construção
do Socialismo.
Parto desses três
textos para afirmar que um dos grandes legados que o líder João Amazonas deixou
a todos os comunistas do Brasil foi uma profunda e perspicaz análise dos erros
e acertos constituídos na tentativa de edificação da sociedade socialista no
período soviético. Arrisco-me a dizer, então, ou mal resumir que, 1) a crença
de que o Socialismo será construído pela vontade dos homens apenas, sem
respeitar as leis objetivas da sociedade e posteriormente, 2) a falta de
atualização da teoria revolucionária – coisas que se coadunam – levaram à
degenerescência da experiência do socialismo real.
Faço essa relação
porque, num mundo tomado pela euforia capitalista pela derrocada do Socialismo
e decepção da esquerda mundial, algumas coisas passaram longe da análise de
que, como diz Amazonas, o desenvolvimento da ciência não é retilíneo e que a
crise do Socialismo tem, na verdade, sua origem na degenerescência do Partido e
seu ápice no revisionismo, a partir da década de 1950. Mesmo assim, com todos
os problemas da construção do Socialismo na URSS, como a repressão política e
ideológica; a concentração de poderes e as diferenças entre teoria e prática –
gerando desafios econômicos, como desenvolver o país tecnicamente para o
momento que vivia; no plano político, com a questão da democracia socialista e
o modelo de estado cujo sistema jurídico-institucional deveria ser para todos
os trabalhadores -, o Socialismo russo tirou o país do atraso. Para se ter
ideia, em 1925, dois terços da produção do país vinha da agricultura e apenas
um terço da indústria. Em dois anos a indústria elevou sua participação para
42%. Num país agrário, cuja fome assolava parcela considerável da população, a
coletivização da agricultura multiplicou por 10 a produção de cereais. Alguns
números são marcantes: a média anual de crescimento industrial da URSS chegou a
ser 20%, enquanto nos países capitalistas, 0,3%; o número de operários cresceu
de 3,8 milhões para 10. Ou seja, o Socialismo colocou a Rússia num novo
patamar.
Os erros
cometidos no curso da experiência soviética partem, em grande proporção, dos
desvios na concepção marxista de partido que ocorreu em vários países da URSS.
Segundo João Amazonas, a maioria dos partidos
comunistas se afastou do leninismo e perdeu sua independência ideológica. Com o
advento do Revisionismo, vários partidos tornaram-se partidos de
reforma, aliados da burguesia, do imperialismo. Poucos resistiram e mantiveram
sua independência organizativa, política e ideológica. Vários extinguiram-se ou
reduziram-se a pequenos grupos inofensivos socialdemocratas.
Além disso, o
liberalismo foi outro fator importante na degenerescência do partido leninista,
fruto de um desvio burguês, opondo-se ao centralismo democrático.
Contudo,
reconhecer e retomar conceitos trabalhados por Lênin no que concerne à transição
ao Socialismo recupera o ímpeto revolucionário e fazem os comunistas
reconhecerem com mais clareza e firmeza de objetivos os caminhos a serem tomados.
Para combater, de um lado, o oportunismo revisionista, de outro, o esquerdismo,
Lênin reconhecia que, mesmo a vanguarda “passando diretamente ao socialismo”,
uma grande parcela da população não estava realizando essa transição, e que
para realizá-la plenamente era preciso utilizar recursos e instrumentos
intermediários para a passagem das relações pré-capitalistas ao socialismo. Por
isso, formulou a teoria do Capitalismo de Estado. Portanto, com o poder
político nas mãos dos trabalhadores, era preciso desenvolver o capitalismo num
país atrasado como a Rússia. Para isso, Lênin formulou várias questões sobre as
concessões no estado socialista; o mesmo afirmava que não havia perigo, pois
“absurdo seria entregar a maioria das propriedades. Isso já não era concessão,
mas um retorno ao capitalismo”. E proclamava: “Que a pequena indústria privada
se desenvolva até certo grau, e que se desenvolva o capitalismo de Estado – o
poder soviético não deve isso temer”.
Para João
Amazonas, essa análise acertada de Lênin parte do fato de que ”a revolução não
ocorre na Idade da Pedra, mas em estágio superior do desenvolvimento da
sociedade. O capitalismo atingiu parâmetros elevados na produção dos bens
materiais. O socialismo não pode ficar atrás. Tem de construir algo melhor e
superior ao sistema capitalista. Contudo, não reúne inicialmente as condições
necessárias para isso. Tampouco poderá fazê-lo arbitrariamente, fugindo às
etapas que se impõem.” Portanto, desenvolver o Capitalismo de Estado e garantir
o desenvolvimento das forças produtivas é essencial para realizarmos as
transições ao socialismo.
Essas transições,
para cumprirem o papel civilizacional que podem cumprir, devem ter como
condutores a classe trabalhadora. Por isso, o essencial é o poder nas mãos do
proletariado, sem o qual, aí sim, o Capitalismo serviria à burguesia. No
Brasil, realizar as condições para uma transição a um Novo Projeto Nacional de
Desenvolvimento é, em certa medida, retomarmos conceitos como o de Capitalismo
de Estado, no qual o poder pertence aos trabalhadores e não ao Capital. Cabe,
então ao Brasil, realizar essas transformações naquilo que entrava a realização
plena do nosso desenvolvimento através da garantia das reformas democráticas e,
principalmente, dando a “cotovelada” que precisamos dar no Capital, que
diuturnamente tenta impedir o salto civilizacional de que o país precisa. Sendo
assim, avançar nas mudanças, garantindo mais desenvolvimento e elegendo um
projeto popular e democrático que tenha como centro de atuação o trabalho é essencial
para nossa luta. Façamos avançar!
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